O brasiliense incorporou a opção pela busca de casas e apartamentos em condomínios, que é tendência no país, para se proteger contra furtos e roubos. No entanto, a medida não garante segurança total. Os registros dessas ocorrências acontecem mesmo nesses espaços. Para amenizar os riscos, síndicos e moradores buscam soluções com o uso da tecnologia, por meio de circuitos de câmeras, leitores biométricos e faciais e até o contato ininterrupto com grupos da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).
Apesar do sistema de câmeras com gravação de imagens, criminosos não se intimidaram ao entrar em um prédio de Águas Claras, durante o dia. Eles invadiram um apartamento para roubar o morador. O caso aconteceu em 2020. Uma vizinha conta que os bandidos entraram pela garagem e tinham um alvo certo: o apartamento de um homem que vendia produtos importados. “Meu marido estava descendo para trabalhar e falou para trancar a porta, porque estava acontecendo alguma coisa no prédio. A gente nunca tinha tido nenhum problema lá”, recorda. Antes desse dia, a moradora, que prefere não se identificar, afirma que não trancava a porta do apartamento por se sentir totalmente segura no local.
O crime teve consequências psicológicas para ela, que ficou assustada. “Levou um tempo pra entender que tinha sido algo isolado. Essa informação de que tinha sido algo muito bem elaborado foi divulgada no prédio e, então, o pessoal ficou mais tranquilo”, comenta.
Modelo de gestão
No condomínio Via Terrazzo, também em Águas Claras, a síndica e moradora Elisabeth Velásquez, 47, destaca o uso da tecnologia para dar mais sossego aos moradores. “A gente realmente tem um controle de acesso muito grande. Nós não temos nenhuma intercorrência de problema de segurança nos edifícios, mas é porque realmente investimos muito na tecnologia e os moradores apoiaram esse modelo de gestão”, pontua. Velásquez também é gestora de residenciais em Samambaia, Vicente Pires e Asa Norte. Segundo a síndica, os condomínios usam leitor facial e biométrico, além de câmeras e sistema de clausura na entrada da garagem.
Em virtude da pandemia, o sistema de biometria foi substituído pelo leitor facial. “No início, o custo é um pouquinho alto, mas ao longo do tempo ele se paga”, comenta a gestora dos condomínios sobre o investimento feito na segurança. “Buscamos empresas especializadas na área de controle de acesso e com equipamentos modernos e duráveis; e com tempo de resposta bastante eficiente, para não causar filas e engarrafamentos. O custo depende do projeto de segurança desenvolvido para cada condomínio”, avalia a síndica.
Em relação aos condomínios de casas, como o administrado em Vicente Pires, a síndica ressalta que a entrada e saída de veículos é feita por meio de tags que acionam a liberação do portão, além da opção de biometria e da filmagem. “Já vem uma etiqueta no carro, então quando a câmera faz a leitura, ele entra e imediatamente o portão fecha”, explica a síndica. Outro método utilizado é um grupo de comunicação direta com a polícia para eventuais suspeitas e crimes. “Graças a Deus, a gente não teve a necessidade de acionar, embora estejamos no grupo”, destaca. Ela avalia que a iluminação externa do condomínio e as câmeras espalhadas pela rua contribuíram para evitar pequenos delitos no local.
Projeto vizinhança
Os blocos da 313 Sul são exemplos de edifícios da capital que utilizam o canal direto com a PM. O presidente do Sindicondomínios e síndico em um dos prédios da quadra, Antônio Carlos Paiva, avalia de forma positiva os efeitos do contato direto com o batalhão da polícia. “Na Asa Sul, chama-se Projeto Vizinhança. A PM veio e deu treinamento para todos os funcionários dos condomínios. Então, qualquer anormalidade é comunicada direto para a polícia”, destaca.
Segundo o chefe da Seção de Polícia Comunitária do Centro de Políticas de Segurança Pública da PMDF, Capitão Diego Araújo, o Policiamento Comunitário busca identificar e resolver problemas de segurança da comunidade em parceria com os moradores. “Uma ação que trouxe resultados positivos foi a organização de vizinhos em redes de comunicação e autoproteção, frutos de iniciativas locais em cada RA ou Batalhão, que mudam eventualmente de nomes como: Rede de Vizinhos Protegidos, Redes de Comércios Protegidos, Guardião Rural, Policiamento Vizinhança, entre outros”, explica.
Para saber se na região onde mora há um grupo de policiamento, o morador interessado pode entrar em contato com o Batalhão responsável pela localidade. “A estratégia ainda não foi regulamentada para toda a PMDF, então, nem toda região tem uma rede auxiliada”, pontua o capitão da corporação. Ele esclarece que, nos batalhões onde já existe a iniciativa, os militares auxiliam os cidadãos a se organizarem. “É possível realizar reuniões com moradores ou porteiros e repassar dicas de segurança. É uma atividade que exige uma análise do local e dos problemas enfrentados pela comunidade”, acrescenta.
O capitão lembra que os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) podem ser procurados para debater os problemas de segurança de cada região. “O canal adequado para toda a comunidade em caso de suspeita de risco é o 190. Policiais com larga experiência farão o atendimento e darão o encaminhamento”, destaca o militar.
Procedimentos
Para a professora da Universidade Católica de Brasília e especialista em segurança pública, Marcelle Figueira, a simples utilização desses meios eletrônicos realmente não previne que ocorram delitos. “O que os condomínios têm que fazer, de forma geral, é terem procedimentos de segurança”, pontua. Marcelle explica que as medidas mais básicas são a identificação das pessoas que entram, a garantia do portão se fechar após a saída ou entrada na garagem, a atenção nas ruas mal iluminadas e o cuidado com pontos-cegos.
“É muito comum que você tenha uma regra de segurança de que entregadores não podem ingressar no condomínio, por exemplo. O condômino tem que vir até a portaria para retirar o seu pedido. É desconfortável para o condômino, mas você reduz a circulação de pessoas que são estranhas àquele ambiente”, exemplifica a especialista.
Para quem mora em casas, a professora sugere que sejam mantidas boas relações entre os vizinhos e a criação de uma rede de avisos caso algo suspeito aconteça, na ocasião de uma viagem, por exemplo. “A vigilância solidária é muito comum. Você sabe que um determinado vizinho está fora, então, uma eventual movimentação na casa dele à noite é suspeita, e você deve acionar a segurança. Os riscos sempre estão associados à possibilidade de você ser, eventualmente, surpreendido””, ensina.
Fonte: Correio Braziliense