Wagner Hermusche reúne quadros e desenhos produzidos desde a década de 1990 e com temáticas que questionam a sociedade contemporânea
Wagner Hermusche é um pessimista. Vê poucas — ou quase nenhuma — saídas para os impasses contemporâneos, mas faz questão de fazer sua parte: recicla o que pode, vive em uma chácara no Paranoá na qual planta parte do que come, não tem carro e anda bastante de bicicleta. Hermusche é também um autodidata que leva para as pinturas e desenhos preocupações que dizem respeito aos rumos da humanidade e do planeta. Esses temores estão em praticamente todas as obras de Ruídos — A coreografia da violência, exposição em cartaz a partir de amanhã no Museu Nacional da República.
Da Alemanha, onde morou entre 1986 e 2007, Hermusche trouxe uma série de 11 pinturas realizadas entre 1992 e 1995. Nas telas, o realismo salta aos olhos assim como os temas tratados pelo artista. “Meus pilares são os de sempre: as grandes corporações, os meios de comunicação de massa, a liberdade, o terrorismo…”, explica. No texto de apresentação do próprio portfólio, Hermusche faz uma espécie de manifesto para explicar as ideias contidas nas obras. Fala do consumismo exacerbado, do “lixo ético, moral, material e químico” produzido pelo homem, da corrupção e de como as grandes corporações controlam e manipulam a informação, da sustentabilidade, levada menos a sério do que deveria.
Tudo isso assume um ar um tanto dramático nas pinturas: uma mãe e uma filha apontam um controle remoto uma para a outra, um conjunto de mãos toca tamborim sob a mira de uma arma, a pele da onça contrasta com a estampa camuflada, uma mulher aparece armada em janela do Congresso. O conjunto de símbolos constrói as metáforas que Hermusche criou para falar do mundo de hoje. As pinturas, ele garante, são bem racionais. A tela reservada para o convite – Braços, de 1994 – tem 3,5m e mostra a tensão entre as raças que habitam o planeta. Pintada em Hamburgo, levou seis meses para ficar pronta e traduz boa parte das ideias do artista: o homem vive numa queda de braços com a própria espécie, embora estejam todos entrelaçados numa mesma história.
e as obras expostas e boa parte deles é mais recente. As cores quentes, uma
Há desenhos também entrmarca do trabalho do artista, ajudam a construir a dramaticidade em composições bastante realistas. O realismo, aliás, acompanha Hermusche há anos. Quando desenha, ele nota uma entrega menos controlada do que na produção das pinturas. “O desenho é mais emocional, menos racional”, avisa. Mas o teor é o mesmo em todas as obras.
Para chegar a cada composição, Hermusche pesquisa. Lê, vê imagens, pensa muito até reduzir a cena a ser reproduzida em uma única frase. Depois, é só voltar ao texto e fazer o quadro. Aqui, o artista comenta algumas das obras presentes na exposição.
SERVIÇO
Ruídos – A coreografia da violência
Exposição de Wagner Hermusche. Abertura amanhã, às 19h30, no Museu Nacional da República. Visitação até 13 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 18h30.
Conheça algumas obras de Ruídos
Pulsação
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“É uma pausa na guerrilha urbana. Pensei, putz, estou muito belicista, deixa eu dar uma pausa para esses dois, que estavam de vigília. Senão não aguentam, né? No fim, quem manda é o coração”
Criança e adulto com controle remoto
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“São os meios de comunicação de massa e a intimidade do lar. É uma mãe e uma filha. E conheci aquela mãe e aquela filha. A mãe tentando controlar a educação que ela acredita ser a melhor e a criança ligando o controle. Aí não tem mais controle”
Atiradores e urubus
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“É uma metáfora. Acho que vamos entrar nessa era de assassinatos políticos. Eles (as figuras do desenho) estão em cima de um prédio cheio de antenas, é um pouco o ambiente que criei no texto. No Japão, o urubu é protegido por lei porque ele limpa tudo, come tudo. Nas corporações, ele é o arquétipo da podridão”