São Paulo – Em meio à disputa pelo comando do SindMotoristas (sindicato dos motoristas e trabalhadores dos ônibus de São Paulo), o candidato Edvaldo Santiago convocou greve de motoristas de ônibus da cidade de São Paulo para esta sexta-feira (1º/12), em protesto ao cancelamento do resultado do pleito pela Justiça. A mobilização vai acontecer três dias após paralisação dos trens e Metrô na capital.
A chapa de Santiago afirma que o Tribunal Regional do Trabalho cancelou duas audiências no processo que trata da suspensão das eleições. O candidato teria vencido o pleito com cerca de 70% dos votos.
“O candidato venceu de forma legítima e não pode assumir? A nova diretoria tem que assumir amanhã. A gente vai acordar amanhã sem diretor no sindicato”, dizem integrantes da chapa. Segundo a chapa de Evaldo Santiago, a expectativa é que a Justiça considere o resultado do pleito como legítimo nesta quinta-feira (30/11), para que a greve seja cancelada.
Em 21 de novembro, enquanto ocorria a eleição do sindicato, trabalhadores realizaram paralisação, fechando terminais de ônibus e afetando 500 mil passageiros.
Um dos motivos da disputa envolve o método de votação. Três das quatro chapas que concorrem à presidência queriam que as eleições fossem feitas com urnas eletrônicas, fornecidas pela Justiça Eleitoral, para evitar fraudes. Já a chapa de Edvaldo Santiago preferiu cédulas de papel, como está no estatuto da entidade.
A suspensão do resultado da eleição atendeu a pedido de uma das chapas da disputa, o Grupo Oposição e Luta — contrário à atual direção.
Disputa na Justiça
Em paralelo à eleição ao comando do sindicato, há uma discussão entre as chapas sobre quem seria o atual presidente. Edvaldo Santiago é ligado a Cristiano Porangaba, o Crizinho, que presidia o sindicato até o início do mês. A Justiça Eleitoral de Sergipe, no entanto, decidiu pela recondução do ex-presidente Valdevan Noventa ao cargo.
Valdevan, principal nome do sindicato, afirma que o SindiMotoristas não convocou greve e que qualquer paralisação será considerada “exploração política” para afrontar o Poder Judiciário.
Ele venceu a última eleição, ocorrida em 2018, que previa mandato até o fim de 2023. Naquele mesmo ano, o sindicalista, que já tinha vencido a disputa em 2013, marcada por um tiroteio, e tido dois mandatos como vereador em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, foi eleito deputado federal pelo estado de Sergipe, onde nasceu.
Dessa forma, a partir de 2019, ele passou a acumular tanto a presidência do sindicato dos motoristas de ônibus paulista como o cargo de deputado federal por Sergipe. Em 2020, porém, uma série de irregularidades na prestação de contas de sua campanha levou a Justiça Eleitoral a cassar o mandato de deputado. O ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), chegou a anular a cassação, mas a segunda turma do STF reverteu a decisão, que foi efetivada em abril do ano passado.
Quatro meses depois, em agosto de 2022, Noventa foi alvo de investigação de crimes tributários, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) apontou uma série de indícios de que o grupo de Noventa desviou dinheiro do sindicato por meio de contratos de prestação de serviço com empresas de fachada. Ele sempre negou as acusações.
Naquela ocasião, a 2ª Vara de Crimes Tributários da capital determinou o afastamento de Noventa da presidência do sindicato, abrindo caminho para que Crizinho assumisse o comando da entidade. Entretanto, as investigações contra Noventa, que corriam em dois inquéritos em São Paulo, foram enviadas à 27ª Zona Eleitoral de Aracaju, por suspeita de que ele tenha usado os recursos para financiar sua campanha por meio de caixa 2.
Retorno ao poder e novas eleições
Segundo a Justiça do Trabalho de São Paulo, “nos referidos procedimentos, houve decisão do magistrado que os preside no sentido da revogação das medidas cautelares impostas ao requerido desta ação trabalhista”. Dessa forma, a Justiça Eleitoral de Sergipe decidiu pela recondução de Noventa ao cargo de presidente do Sindimotoristas.
“O líder histórico dos condutores de São Paulo afirmou ser vítima de uma campanha suja, de perseguição contra a sua pessoa por parte de setores econômicos, que acabou, inclusive, atingindo sua família, seus entes queridos”, publicou o site do sindicato após o retorno de Noventa, no dia 10/11. Crizinho, porém, afirmou à Justiça Trabalhista que não havia sido notificado da decisão e se manteve no cargo.
fonte:MetropolesSP