No aguardo da confirmação de que será denunciado no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), passou a discutir com aliados a elaboração de uma nota em que deverá alegar ser alvo de um “acordão” para tentar enfraquecê-lo no comando da Casa.
Cunha tem discutido desde essa quarta (19/8) com um pequeno grupo de deputados, o “tom” que deverá ser adotado no documento, previsto para ser publicado logo após a confirmação a denúncia contra ele no STF por parte do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
As denúncias, por corrupção e lavagem de dinheiro, serão as primeiras no âmbito das investigações da Operação-Lava Jato envolvendo políticos com prerrogativa de foro. Elas são baseadas em depoimentos de delatores e em provas colhidas pelo Ministério Público Federal em diversas fases da investigação, entre elas as buscas em imóveis de Collor, na chamada Operação Politeia, em julho.
De acordo com deputados envolvidos na discussão da nota, rascunhada pelo presidente da Câmara, o “tom será duro” e o peemedebista deve ressaltar o fato de nenhum parlamentar petista investigado na Lava-Jato ser, até o momento, alvo de denúncia no STF.
“O tom será duro, mas não agressivo. Ele questionou durante a elaboração do texto porque ele e não o PT?”, disse um deputado que chegou a ler trechos da nota rascunhada ontem por Cunha. A avaliação do grupo do peemedebista é de que ele virou alvo principal das investidas de Janot, após romper com o Palácio do Planalto.
No documento, a princípio, o foco será o PT e não haverá menções ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), investigado na Lava-Jato, mas que poderá ter o processo arquivado em razão da falta de materialidade da acusação.
Embora Renan não seja citado, a tendência é de Cunha “cutucar” Janot e criticar a condução dele nas investigações. Segundo relatos, o peemedebista ficou irritado com o tom que o PGR adotou em oficio encaminhado ao líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), no qual o deputado fluminense pede informação sobre as diligências feitas pelo MPF nos computadores da Câmara.
Segundo Alencar, Cunha disse em reunião de líderes do último dia 11, que na coleta de dados feita por integrantes do MPF, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), houve acesso a dados de todos os 513 deputados. Janot disse em documento enviado ao líder do PSOL que as declarações de Cunha eram “levianas”.
A informação da resposta de Janot a Chico Alencar chegou ao conhecimento de Cunha no momento em que ele discutia o texto, que deverá ser divulgado após a oficialização da denúncia. “Janot terá um espaço nesta nota” afirmou um deputado envolvido na discussão do texto.