Resíduos contribuem para proliferação do mosquito Aedes aegypti, além de agravarem riscos de alagamento em vários pontos da cidade. Governo promete multar os infratores
Nem sempre os brasilienses têm agido de forma correta na hora de descatar o lixo. Em tempos de caça aos focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e do zika vírus, e dos temporais, que deixam debaixo d´água vários pontos da cidade, a população precisa fazer a sua parte e ajudar a manter a cidade limpa. Não é raro encontrar sofás velhos, eletrodomésticos sem uso e restos de obra depositados em terrenos baldios. O resultado é que todos os dias o Serviço de Limpeza Pública (SLU) retira, em média, 2,8 toneladas de lixo das ruas do Distrito Federal.
Segundo o professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em resíduos sólidos Gustavo Souto Maior Salgado, pequenos atos podem gerar grandes prejuízos. “Uma guimba de cigarro jogada na W3 Sul é levada para o Lago Paranoá com a chuva. Assim, se cada pessoa fizer algo semelhante, a quantidade de lixo gerada e armazenada nas redes de drenagem é enorme”, explica.
A dengue é apenas uma das doenças que podem ser causadas pelo lixo acumulado. Tétano, febre tifóide, leptospirose, verminoses e hepatite A sâo outras enfermidades que ameaçam a população causadas pelo descarte irregular dos resíduos.
Além da saúde, jogar lixo na rua acarreta outros problemas. Com os bueiros entupidos, em época de temporal os alagamentos são dados com certo, por exemplo. E a situação pode se agravar no carnaval, já que milhares de foliões vão brincar nas ruas e muita sujeira vai ficar espalhada pela cidade.
Denúncia
O despejo irregular de lixo é considerado infração passível de multa. A Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) informou, por meio de nota, que o auxílio da população para identificar infratores é essencial.
“Quem flagrar um despejo irregular de lixo deve fotografá-lo ou filmá-lo, anotando sempre algum número de placa ou telefone da empresa. As denúncias podem ser efetuadas pelo telefone 162 ou pelo site da ouvidoria geral www.ouvidoria.df.gov.br. O cidadão pode, então, enviar um e-mail para ouvidoria@agefis.df.gov.br
A multa para quem joga entulho em lugares proibidos vai de R$ 74 a R$ 185 mil, dependendo do local, da quantidade e do tipo de resíduo descartado.
Ernesto Silva Lemos, 42 anos, destaca que bem sempre existem equipes do SLU para recolher o lixo na porta de sua casa, em Ceilândia. Por isso, muitas vezes a opção é recolher o entulho e deixar em áreas mais visíveis, onde o caminhão passa. “Eu sei que é errado, mas como vou fazer? Deixar tudo na frented e casa?”
Alagamentos
Janeiro teve 398mm de chuvas e, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), superou a média histórica, de 209mm, em 90,4%. Consequência do fenômeno climático El Niño, as enchentes acarretaram transtornos para motoristas e pedestres da capital. Para especialistas, os problemas são resultado de má-gestão e de obras mal executadas por parte do Estado.
No entanto, o governo não pode ser integralmente responsabilizado pelos estragos. Os cidadãos têm grande parcela de culpa devido ao descarte irregular de lixo. Segundo o diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) Antônio Coimbra, “a rede de águas pluviais não é do governo, é da população, que precisa ter consciência e se apoderar dessa infraestrutura no sentido de zelar e cuidar dela.”
O órgão retira, diariamente, de quatro a cinco toneladas de lixo das cerca de 170 mil bocas de lobo em todo o DF, informa o dirigente. O papel, o copinho, a garrafa pet jogados nas ruas se somam e causam o entupimento”, afirma.
Prejuízos
Ao longo de janeiro, houve dezenas de casos em que a chuva assustou os brasilienses. Em 22 de janeiro, por exemplo, os alagamentos deixaram carros submersos em tesourinhas do Plano Piloto. Na 206 Sul, a força das águas chegou a formar uma cachoeira (veja vídeo).
Na tesourinha da 209 Sul, a água cobriu dois veículos. O Corpo de Bombeiros foi acionado para ajudar no resgate das pessoas que estavam nos carros e na retirada dos automóveis.
Metrópoles