Gasto mensal com contratos do tipo é de R$ 8,5 milhões, afirma secretaria. Incubadoras e equipamentos de hemodiálise estão entre os sem cobertura.
Menos de 20% dos equipamentos da rede pública de saúde do Distrito Federal têm manutenção garantida, embora o gasto com contratos do tipo chegue a R$ 8,5 milhões por mês. Entre os aparelhos que não recebem revisões, correções e reposição de peças estão os usados para hemodiálise eincubadoras. A Secretaria de Saúde estuda como ampliar a cobertura.
De acordo com a pasta, há atualmente 57,5 mil equipamentos na rede. Desses, só 11 mil recebem manutenção – uma média de R$ 7,7 mil por mês com cada um. A pasta afirma que desde o início do ano renovou 12 processos que cobrem diversas áreas, contratou manutenção para oxigênio líquido e para 61 respiradores.
O secretário de Saúde, Fábio Gondim, diz que vai se dedicar “com bastante trabalho” à área de equipamentos. Ele afirma haver falhas de comunicação dentro da pasta e defende que gestão pode resolver parte do problema.
“Tem até um caso emblemático. A gente não arruma mais respirador. Ele estraga, você encosta, compra mais. Estraga, encosta, compra mais. Fiquei sabendo que tem três vezes mais o número de respiradores do que o necessário”, declarou em entrevista à TV Globo na semana passada.
Recém-nascidos usando incubadoras quebradas e dividindo o mesmo equipamento com outros bebês na regional de Ceilândia. Um vídeo trazia ainda aparelhos cheios de poeira. Servidores reclamaram da situação.
O problema, afirmam, se repete em outras unidades. Um médico ouvido pela reportagem disse que a maternidade de Sobradinho vive uma situação “crítica”. “O bloco Materno Infantil aqui não tem nem cinco anos e já virou um entulho de máquinas”, declarou.
Presidente da Comissão de Bioética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o advogado Felipe Bayma disse na época que a situação já estava abrangida por um parecer feito pela entidade no início do ano. Ele informou que o relatório foi entregue pessoalmente ao governador para que sejam corrigidos os problemas na saúde pública.
Situação de emergência
Gondim afirmou que entre 80% e 90% dos problemas da pasta se resolvem com gestão. O ex-consultor do Senado e ex-assessor de Roseana Sarney (PMDB) assumiu o cargo no lugar do médico João Batista de Sousa, que pediu demissão no dia 23 de julho, após sete meses de trabalho.
Entre os problemas da área – que segue em estado de emergência até janeiro do próximo ano – estão o desabastecimento de remédios, baixa manutenção de equipamentos e déficit de servidores. Para o novo secretário, também há falta de comunicação e outras falhas que culminam, por exemplo, com compras duplicadas.
“Há desperdício, há desvio, há falta de medicamento, há sobra de equipamento a ponto de ele ser perdido por perda do prazo de validade. Os equipamentos são adquiridos sem uma sistematização”, afirmou.
Ao deixar o cargo, João Batista de Sousa informou que faltavam 71 dos 850 medicamentos preconizados pelo SUS – incluindo antibióticos usados para combater sífilis, toxoplasmose e inflamações no coração – e havia 50 leitos de UTI fechados. Ele também citou “vulnerabilidades” na radioterapia, saúde mental, tratamento intensivo e emergências.
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelo ex-secretário está a infecção de nove pacientes por superbactérias, o que motivou a criação de um plano que pedia reforço na higiene de hospitais públicos. Sete deles morreram. Além disso, imagens feitas na primeira metade do ano mostraram funcionários atendendo pacientes vestidos com sacos plásticos, por falta de avental, e lençóis sendo lavados em casa.
Um dos últimos atos do médico à frente da pasta foi prorrogar por mais seis meses o decreto de estado de emergência na saúde pública. Ele alegou ainda haver vulnerabilidades, como na área de radioterapia, para adotar a medida. Com isso, a pasta fica desobrigada a ceder servidores, por exemplo.