Obra de ficção conta a história do brasileiro inventor do avião
O médico legista Walther Haberfield não acreditou no que viu: um coração enorme naquele corpo franzino, mirradinho, de passarinho… Era espantoso! Assim que acabou a autópsia, escondeu o coração, que só podia mesmo ser de alguém generoso e muito humano, como o era de fato o seu dono Alberto Santos-Dumont, aquele que só queria voar… “Faço estágio para o ofício de pássaro”, disse ele um dia.
Aquele que, desde criança, foi um menino-passarinho em todos os sentidos. Olhava as aves, não para ouvir o seu canto, mas para acompanhar-lhes o voo: tinha predileção por tudo que tivesse asa, leveza, e pudesse se elevar do chão, como que numa ânsia de liberdade e infinito… Lia tudo sobre inventos que tornassem o homem mais livre. Máquinas que substituíssem o braço no trabalho pesado, máquinas que levassem o homem a lugares distantes onde só a imaginação era capaz de chegar… Na infância, vivia de si mesmo, de silêncio e solidão. E devorava os livros.
Descobriu Ícaro (que depois fez esculpir no túmulo da família), Bartolomeu de Gusmão, o jovem padre brasileiro voador, apaixonou-se pelos heróis de Júlio Verne, sobretudo Heitor Servadoc com quem “navegou pelo espaço”, e acreditou que o que é pensado pode ser executado. Sonhou todos os sonhos e tornou-os possíveis. Cresceu buscando o que subjaz às coisas. Não se contentava em usá-las, precisava saber como funcionavam, que princípio as regia. Tinha o espírito clássico de um sábio grego ou do mestre renascentista Leonardo da Vinci, como foi chamado à época pelos jornais New York Herald e Paris Herald.
SERVIÇO
O homem com asas
De Arthur Japin, editora Planeta, com 288 páginas. Preço médio: R$ 41,90.