Entre eles, estão Luiz Estevão, Pizzolato e Funaro, punidos porque tiveram acesso a alimentos, produtos e dinheiro além do permitido
O que era para ser um castigo no isolamento preventivo da Papuda virou o confinamento com proporções de um time de futebol. Os 11 presos punidos com recolhimento disciplinar após uma inspeção encontrar alimentos e dinheiro em suas celas dividem agora o mesmo ambiente de 16 m² em uma das alas da Papuda.
No cárcere conhecido por solitária, dentro do Pavilhão Disciplinar do Centro de Detenção Provisória (CPD), os internos, considerados de condição vulnerável, se revezaram para dormir na noite de terça (31/1), já que havia espaço apenas para que cinco deles se deitassem, enquanto os outros seis ficaram sentados.
O grupo punido é composto por Adriano Luiz Oliveira, ex-servidor do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) e ex-assessor de desembargador condenado por crime sexual contra uma menina de sete anos; o doleiro Lúcio Funaro, que cumpre pena da Lava Jato; Henrique Pizzolato, personagem do escândalo do Mensalão; além de outros oito detidos.
Eles se juntaram na tarde desta terça-feira (31/1) ao ex-senador Luiz Estevão, condenado por crimes cometidos na construção da sede do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP). O empresário já estava no regime disciplinar desde a última quinta (26).
Na tarde desta quarta (1°/2), Luiz Estevão (foto em destaque) deixou o cárcere para prestar depoimento em audiência na 10ª Vara da Justiça Federal. O ex-senador chegou em um carro preto, acompanhado por agentes. Questionado sobre o episódio que resultou em seu confinamento e de outros dez colegas, ele confirmou que, tinha, sim, “chocolate e café” na cela.
Denúncia
A partir de denúncia anônima à Justiça, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário do Distrito Federal (Sesipe) coordenou uma operação no último dia 26 que recolheu alimentos e objetos proibidos na cantina e na cela do ex-senador, que cumpre regime fechado na Ala B do Bloco 5 da Papuda desde 8 de março de 2016.
Durante a inspeção, o coordenador-geral da Sesipe, delegado Guilherme Henrique Nogueira, relatou ter encontrado na cantina do Bloco 5, fatias de salame e peito de peru.
Na cela do ex-senador, embora os policiais não tenham encontrado dinheiro, eles recolheram uma cafeteira, 227 cápsulas de café, dois pacotes de macarrão da marca Delverde e um pacote de chocolate Lindt. Além disso, foram recolhidos também quatro pen drives da marca SanDisk.
A batida se estendeu a outras celas da ala, onde foram encontradas quantias de dinheiro acima dos valores permitidos e alimentos proibidos. Nesta terça (31/1), a Sesipe colocou os outros 10 apenados no castigo.
Além dos apenados mais conhecidos, também estão no isolamento Ivon de Moraes, Sílvio Eustáquio, José Marques, Antônio Carlos, Adenir José, Floriano Ribeiro e Casemiro Pereira.
O isolamento dos 11 internos se dá no Pavilhão Disciplinar, onde estão também ex-policiais condenados. Nesse regime, o preso perde direito à visita semanal dos familiares e acesso à cantina. O isolamento deveria ser feito em celas de dois ou quatro internos. O banho de sol é restrito a uma hora.
Servidores exonerados
A partir da ocorrência, a Sesipe instaurou sindicância e pediu a exoneração de toda a direção do CDP da Papuda. Entre os agentes penitenciários que perdem o cargo, estão o diretor da unidade, Diogo Ernesto de Jesus; os chefes de pátio Eliezer Gomes de Oliveira e Robson Clésio de Oliveira; e a chefe da assessoria jurídica Kefine Boaventura.
O diretor adjunto do CDP, Vitor Espíndola, também está com o cargo ameaçado. Com a decisão da Sesipe, o comando do CDP deve passar para a Polícia Civil. Existe uma guerra histórica entre a corporação e os agentes penitenciários. Na avaliação deles, a mudança seria uma ação política para enfraquecer a carreira dos técnicos.
A primeira sinalização dessa mudança seria a nomeação de um delegado para comandar o CPD. O nome mais cotado, até o momento, é o de Johnson Kennedy Monteiro, gestor da Penitenciária 1 do Complexo da Papuda.
A Polícia Civil já abriu inquérito para investigar a possível participação de agentes públicos no favorecimento aos internos e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) também foi acionado.