Celebrando o centenário do fundador da OSTN, o concerto nesta terça-feira terá três obras do compositor e maestro
Um dos mais talentosos, inquietos e polivalentes artistas da música brasileira, o amazonense Cláudio Franco de Sá Santoro tem seu nome intrinsecamente ligado a Brasília. Aqui, com relevante passagem pela Universidade de Brasília (UnB), foi o fundador da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, que, em 2019, comemora quatro décadas de existência.
Neste ano há a celebração do centenário do compositor e maestro, morto em 27 de março de 1989. Nesta terça (26/3), às 20h, no Cine Brasília, ele terá a memória reverenciada em concerto da OSTN, sob a regência do maestro Cláudio Cohen. No programa estão incluídas três obras do mestre: 9ª Sinfonia, Impressões de uma usina de aço e Frevo.
Cohen vê como fundamental a contribuição de Santoro para a disseminação e o crescimento da música erudita na capital. “Como professor e diretor do Departamento de Música da UnB de Brasília, fundador e maestro da Orquestra Sinfônica, ele foi diretamente responsável pela formação de diversos instrumentistas, compositores, arranjadores e até maestros. O Sílvio Barbato, que o substituiu à frente do grupo, havia sido seu assistente”, destaca.
O atual maestro da orquestra foi outro dos discípulos de Santoro, a quem tinha como um regente preciso e consciente na construção do discurso musical, “além de exigente ao extremo e temperamental”, lembra. “Quando se aborrecia com alguma coisa, fechava a partitura, interrompia o ensaio e ia embora. Isso fazia parte do seu estilo e personalidade. Mas tudo era relevado, pois os músicos tinham muita admiração por ele”, acrescenta.
Segundo Cohen, Santoro tinha admiração pela obra de Bach, Beethoven, Brahms e Tchaikovsky, mas valorizava bastante compositores brasileiros. “No programa dos concertos, com alguma frequência, havia peças de Camargo Guarnieri, Carlos Gomes, Francisco Mignone, Guerra Peixe e Heitor Villa-Lobos, entre outros”, recorda-se. “Ele incluía também, mas com parcimônia, composições dele. Por vezes, levava alguma peça que estava criando para mostrar nos ensaios e testar com os músicos da orquestra”, complementa.
Na UnB
Integrante do naipe de madeiras da orquestra, Vaclav Vinecka, que toca oboé, conheceu Santoro quando ele retornou a Brasília em 1967, depois de participar do programa Artista Residente de Berlim Ocidental. “Como professores, fomos colegas no Departamento de Música da UnB, o qual ele viria a chefiar. Da formação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, criada por ele, fiz parte logo no início, ao lado de outros professores da universidade e da Escola de Música, e dos melhores alunos das duas instituições”, ressalta.
Um dos seis remanescentes da formação original da OSTN, Vinecka iniciou sua trajetória musical em 1966, aos 15 anos de idade, como integrante da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Praga, na antiga Tchecoslováquia, de onde é originário. “Vim para o Brasil cinco anos depois e passei a fazer parte da Orquestra Filarmônica de São Paulo. Entre 1973 e parte de 1975, fui da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA). Contratado pela Universidade de Brasília, como professor, cheguei aqui no segundo semestre de 1975”, relata.
Para o oboísta, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional faz parte da vida dele. “Desde a aposentadoria na UnB, passei a me dedicar totalmente à orquestra, à qual estou ligado de 1979. Tinha uma relação de amizade com o Santoro, e também contribuiu para isso o fato de minha filha Verônica ter sido aluna de balé de Gisele Santoro, mulher do maestro”, comenta.
Nascido em Manaus, em 23 de novembro de 1919, Cláudio Santoro foi mais do que compositor, arranjador, professor e maestro. Incansável pesquisador, exerceu ainda o ofício de administrador e representou o Brasil em conferências internacionais, a convite de diversos governos e instituições estrangeiros.
Além da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, ele criou as orquestras da Rádio MEC e Rádio Clube do Brasil. Membro do Conselho Diretor Interamericano de Música da Organização dos Estados Americanos, da Academia Brasileira de Artes e da Academia de Música e Letras do Brasil, dirigiu o Departamento de Músicos de Orquestra da Escola Estatal Superior de Música Heidelberg Mannhein, na Alemanha Oriental.
Como maestro, regeu importantes orquestras do mundo, entre elas Filarmônica de Lenigrado, Estatal de Moocou, RIAS Berlim, Beethovenhalle Bonn, ORTF Paris, Sinfônica da Rádio e Praga, Filarmônica de Bucarest, Filarmônica de Sofia, Filarmônica de Varsóvia, entre outras. Detentor da Orem do Mérito Rio Branco e Ordem do Mérito de Brasília, recebeu condecorações em países como Alemanha, Bulgária, França, Polônia Estados Unidos, e também em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em 2015, Santoro – O Homem e sua Música, documentário dirigido por John Howard Szerman, e direção musical de Alesandro Santoro, recebeu o troféu Câmara Legislativa, para melhor filme, melhor diretor e melhor trilha sonora; e Prêmio Marco Antôniuo Guimarães, do Centro de Pesquisas do Cinema Brasileiro para melhor pesquisa cinematográfica; e Prêmio Exibição do Canal Brasil.
Orquestra Sinfônica do teatro Nacional
Concerto comemorativo dos 40 anos em homenagem ao centenário do maestro Cláudio Santoro, nesta terça (26/3), às 20h, no Cine Brasília (entrequadra 106/107 Sul). Entada franca. Classificação indicativa livre.
Fonte Correio Braziliense