O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, reagiu nesta terça-feira às declarações de Moscou — que mais cedo advertira a Ucrânia de que o uso da força pode levar a uma guerra civil — e pediu para a Rússia recue suas tropas da fronteira com o país vizinho. Em tom de ameaça, Rasmussen afirmou ainda que, se o país voltar a violar o Leste da Ucrânia, haverá “consequências graves” para sua relação com a aliança.
Os eventos no Leste da Ucrânia são são motivos de grande preocupação. Exorto a Rússia a dar uma passo atrás. Qualquer outra mudança para o Leste da Ucrânia representa uma grande escalada — disse, em entrevista coletiva.
Mais cedo, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia instou as autoridades de Kiev a cessar qualquer preparativo de intervenção militar nas regiões pró-russas e afirmou que os membros de uma empresa de segurança privada americana participam da operação. Em nota, o órgão garantiu ter informações de que o governo de Kiev estaria enviando forças de segurança e voluntários da Guarda Nacional, incluindo combatentes do grupo ultranacionalista Pravy Setor, ao Sudeste do país, incluindo Donetsk.
“Eles foram encarregados da tarefa de esmagar pela força a contestação dos habitantes do Sudeste do país contra a política das autoridades de Kiev”, acrescentou o ministério em seu comunicado. “O fato de participarem nesta operação cerca de 150 especialistas americanos do grupo militar privado dos EUA Greystone, que usam o uniforme da unidade ucraniana de forças especiais Sokol, provoca uma preocupação particular.”
A Ucrânia, por sua vez, advertiu que tratará separatistas como “terroristas e criminosos”. As Forças Especiais da polícia retiraram nesta terça-feira os manifestantes pró-russos que ocupavam a sede do governo regional na cidade de Kharkiv desde o último domingo. Em sua página no Facebook, o ministro do Interior, Arsen Avakov, anunciou que três agentes foram feridos e 70 separatistas, presos.
— Os separatistas que pegam armas, que invadem edifícios, serão tratados como está previsto na Constituição e nas leis, como terroristas e criminosos — declarou o presidente interino do país, Olexander Turchynov. — As forças de segurança nunca usarão armas contra manifestantes pacíficos.
Turchynov lembrou ainda que as forças de segurança enviadas para retomar o prédio da administração local na cidade de Kharkiv foram alvos de “armas de fogo e granadas”.
— Vários integrantes das forças de segurança ficaram feridos.
Na segunda-feira, depois de tomar a sede do governo regional de Donetsk, área considerada o coração industrial da Ucrânia, um grupo de centenas de mascarados não só declarou independência como ainda pediu que o presidente russo, Vladimir Putin, mandasse uma “força de paz” à região. E ainda anunciou a convocação de um referendo no próximo dia 11 de maio para que o povo decida por uma eventual anexação à Federação Russa.
Apelos e mobilizações semelhantes nas cidades ucranianas de Kharkiv — segunda maior do país — Luhansk e Mariupol fizeram o governo interino, em Kiev, acusar a Rússia de armar um plano para desestabilizar o país. E embora o Kremlin não tenha dado sinais claros sobre suas intenções, analistas acreditam que os protestos e a onda separatista são, de fato, orquestrados em Moscou. O objetivo seria desestabilizar o frágil governo interino ucraniano, impedir sua aproximação com o Ocidente, bem como acordos com quaisquer organizações ocidentais — como a Otan.
Fonte: O Globo