“Sou apenas 10% do grupo”, entrega o tenor australiano Boyd Owen, modesto para quem já apresentou Carmina Burana, no prestigioso Carnegie Hall (Nova York), e que chega a Brasília, com a turnê Love is in the air, com direito à passagem por quatro outras capitais. Junto com nove amigos, com quem forma a primeira turnê do grupo The Ten Tenors pelo Brasil, depois de mais de 2,5 mil apresentações mundo afora, com venda superior a 3,5 milhões de ingressos, Boyd Owen antecipa muito do fator surpresa do show que alinha releitura do cancioneiro romântico internacional: “Não se espera que estes caras de smoking e gravatas avermelhadas sejam capazes de relaxar, no palco”.
Aos moldes de um time de futebol, o Ten Tenors, pelo que enfatiza Owen, traz integrantes diferentes, a cada formação: “É algo natural, uma vez que estamos juntos há mais de 27 anos. Iniciamos, aos meados dos anos de 1990, justo quando o trio Pavarotti, Domingo e Carreras explorava algo absolutamente novo. A música clássica, à época, era mantida nas casas de ópera e por lá ficava, com um limitado grupo de admiradores. Mas, os três sabiam que o erudito podia muito bem ser apreciado por um maior público. Nós começamos, de modo muito informal, e eles foram uma inspiração”.
Nessa linha, depois de apresentações com Rod Stewart e Alanis Morissette, e da gravação de 15 álbuns e 4 DVDs (entre os quais Amigos para siempre), Owen e os parceiros Cameron Barclay, Daniel Belle, Michael Edwards, Keane Fletcher, Nigel Huckle, Nathan Lay, JD Smith, Sam Ward e James Watkinson apresentarão músicas como Life is perfect, A thousand years e All of me. Never enough e ainda árias como Una furtiva lagrima (de Donizetti) e Nessun dorma (Puccini) não fogem do repertório a ser apresentado, hoje, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Pequenos pontos (colocados nos ouvidos), no palco, ajudam no checar de vozes e na comunicação com a equipe técnica, em complexa afinação. “No mais, ensaiamos, ensaiamos e ensaiamos, até o mais próximo da possível perfeição. Trabalhamos duro, absolutamente todos os dias. Ainda que tenhamos ensaios regulares, a cada apresentação, tomamos ao menos uma hora para aperfeiçoamentos e ajustes. Buscamos um som único e especial com momentos poderosos, desde a integração das vozes no palco até os momentos de holofote e brilho para uma única voz peculiar ganhar projeção. A constância dos ensaios é que resultou na harmoniosa experiência. Não podemos ainda deixar de observar a escolha afunilada de repertório”, entrega o cantor.
Ao ressaltar que tenores não se limitam à identidade junto ao clássico, Owen lembra de Freddie Mercury (do Queen) e John Longmuir. “Eu tendo a soar como cantor clássico, mas alguns (do The Ten Tenors) vêm com a afivelada tonalidade de rock. Levamos o público para uma jornada de sons muito diversos. Nós realmente gostamos de surpreender”, comenta. Celebrar o amor e as primeiras danças de noivos, a cada casamento, formulou o conceito de Love is in the air. A espera pela apresentação no Brasil está engasgada, há dois anos, quando tudo se viu modificado pela pandemia.
“Finalmente, podemos nos apresentar. É o que em mim toca, ao apresentar Love is in the air: ficar sem cantar, por dois anos, me fez sentir como se uma parte de mim estivesse ausente. Me levanto, pela manhã para isso: para entregar a música. Os últimos dois anos nos deixaram em frangalhos. Em duas horas de apresentação, espero que haja transcendência. A música toca nosso coração, e acentua a nossa interação. Queremos, de verdade, exercer uma mudança, como numa forma de cura. Quero que todos se sintam vivos novamente — contactar o que existe de pulsante na vida, algo perdido nos últimos anos”, observa Boyd Owen.
Num patamar técnico e que dimensiona o grupo, vale lembrar que um dos álbuns foi gravado em Praga com a Orquestra Filarmônica Tcheca, mas, em Brasília poucos instrumentistas estarão no palco. “Às vezes, compactamos o som da orquestra num computador”, brinca o artista. Na reta final de uma longa jornada, depois de enorme aceitação pela Europa e Américas do Sul e do Norte, Owen conta da intimidade com o relacionamento mantido com públicos diversos com alemães, australianos, italianos e chineses. E, do Brasil, como ouvinte, do que gosta Owen? “Adoro samba, e que é, claro, marca brasileira. Gosto de Gilberto Gil, mas, no momento, adoro as músicas de Ivete Sangalo, ainda que minha favorita seja Maria Rita. Com a música brasileira não há quem fique triste”, observa. Ciente do entendimento do que apeteça o público, Owen é catedrático: “Nosso atual show é dos que mais me orgulha, trata-se de um dos melhores. Fazemos trocas culturais, e temos Mas que nada (Jorge Ben). Injetamos o inesperado, com medleys e twists, e nunca deixaremos de fora Bohemian rhapsody. É um show animado, e, no encerramento, é muito bacana ver todo mundo dançando, e sentindo”, conclui Boyd Owen.
Fonte: Correio Braziliense