Ocorreu nesta segunda-feira (15) a primeira audiência no caso do homicídio da médica Gabriela Cunha, 44 anos, morta em outubro do ano passado. Uma das testemunhas a depor nesta tarde foi o pai da vítima, Mário Rebelo, que comentou o impacto do crime na família.
“Perder uma filha não é fácil, ninguém imagina.”
A audiência foi realizada pouco mais de dois meses após a prisão do assassino confesso da ex-diretora do Hospital Regional de Taguatinga. Rafael Henrique Dutra, de 32 anos, trabalhava como motorista da médica e, após o crime, chegou a fazer movimentações bancárias que chegaram a R$ 200 mil nas contas dela.
Nesta segunda, ele compareceu à audiência, mas não prestou depoimento. O ex-motorista só deve ser ouvido em um próximo encontro, no dia 17 de maio.
Além do pai de Gabriela, responderam às perguntas do Ministério Público e da defesa do acusado três policiais envolvidos na investigação, o irmão da vítima e um homem que vendeu um carro a Rafael.
Rafael Dutra, acusado de matar a médica Gabriela Cunha. — Foto: TV Globo/Reprodução
O primeiro a falar foi o pai de Gabriela. “Estou péssimo. Minha esposa, coitada, foi a que ficou mais sentida”, desabafou.
“É como se ela tivesse morrido, mais pela forma cruel e danosa que mataram nossa filha.”
Motorista se passou pela médica em mensagens de WhatsApp
Mário Rebelo também contou como o motorista Rafael Henrique Dutra se passou pela médica – depois do crime – para evitar que a família contatasse a polícia. Segundo o pai de Rafaela, o acusado usava o celular da vítima para mandar mensagens e fingir que ela estava em uma clínica de reabilitação.
Motorista que matou médica no DF enviou mensagens para família da vítima depois do crime — Foto: TV Globo/Reprodução
O pai conta que quando ameaçou acionar a polícia, Rafael, se passando por Gabriela, disse que voltaria para casa no Natal do ano passado. Quando isso não aconteceu, a família decidiu chamar as autoridades.
Outro fator que contribuiu para a descoberta do crime foram os erros de escrita cometidos por Rafael nas mensagens enviadas aos parentes da médica.
“Gabriela sempre foi muito boa em português e redação. Começaram a aparecer muitos erros de português”, comentou.
Questionado pela defesa de Rafael, o pai de Gabriela também admitiu que ela usava remédios controlados e que, dois meses antes da morte, confessou ser usuária de cocaína. O acusado teria, inclusive, fornecido drogas para ela. Por isso, a família acreditou que Gabriela poderia estar internada em uma clínica de reabilitação.
O vício da médica foi uma questão suscitada com frequência pela defesa do motorista. O advogado Cleyton de Oliveira também perguntou sobre a falta de testemunhas que indiquem que Gabriela foi assassinada e o fato de que a arma do crime não foi encontrada.
Movimentação na conta bancária da vítima
Outro depoimento dado nesta segunda-feira foi o do delegado Leandro Ritt, responsável pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) da Polícia Civil do Distrito Federal. O delegado contou que, após o início da investigação, Rafael Dutra rapidamente foi apontado como suspeito, principalmente por conta das movimentações que fez na conta bancária da vítima.
Delegado Leandro Ritt, da Divisão de Repressão a Sequestros do DF — Foto: Mateus Rodrigues/G1
“A vida dele eram bares e bebidas. O objetivo era aproveitar a vida e gastar dinheiro”, contou o delegado.
O acesso do motorista às finanças foi permitido por Gabriela, que passava por problemas de saúde e pediu a ajuda dele na resolução de problemas. Segundo as investigações, pouco antes do crime, a médica teria se incomodado com transações feitas por Rafael na conta bancária dela.
A ex-diretora do Hospital Regional de Taguatinga também teria manifestado a intenção de revogar uma procuração que havia concedido ao acusado. O documento dava a ele poder legal para fazer movimentações no lugar da vítima.
Esse seria a principal motivação para o assassinato, afirma a acusação.
Comparsa
Os policiais que prestaram depoimento também colocaram em dúvida a versão do motorista sobre o crime. Segundo o depoimento de Rafael, o assassinato teria sido cometido por um comparsa, chamado de Baiano.
Segundo a versão do acusado, ele seria um conhecido que já havia ficado preso com Rafael e que teria recebido R$ 5 mil para matar a médica, usando uma corda. A polícia acredita que possa ter havido um comparsa, mas afirma que ninguém com as características fornecidas pelo réu foi encontrado.
“Está confirmado que Baiano não existe”, afirmou o delegado Leandro Ritt.
Assassinato
A morte de Gabriela Cunha, que era diretora do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), foi anunciada em 30 de janeiro, três meses após o crime. As investigações apontaram o autor do homicídio como Rafael Dutra, que há dois anos era motorista da médica e confessou o assassinato
Polícia prende motorista que assassinou médica
Segundo contou aos policiais, no dia do crime, o motorista chegou a levar a médica ao HRT. Por volta das 12h, seguiu com ela até uma agência bancária de Sobradinho. No local, Gabriela fez uma transferência bancária para Rafael.
Quando estavam retornando para Taguatinga, Rafael estacionou o carro em uma parada de ônibus e disse que tinha ouvido um barulho na roda. Nesse momento, um comparsa teria entrado no veículo, simulado um assalto e determinado que todos seguissem rumo a Brazlândia.
Próximo a uma estrada de chão, o motorista teria parado o automóvel e Gabriela, sido enforcada. O corpo dela foi deixado no local e localizado três meses depois, quando Rafael foi preso e levou a polícia até o local.