Proporção de brasilienses favoráveis à substituição da presidente é maior entre a população de menor renda
A possibilidade de impeachment da presidente da República mexe com a cabeça do brasiliense. Pesquisa do Instituto Exata OP publicada com exclusividade pelo Jornal de Brasília, mostra que a vontade de troca no comando é majoritária entre os brasilienses.
São 63,3%, praticamente dois terços dos entrevistados, os que dizem querer a queda da presidente. O número reflete as manifestações do último dia 16, quando 800 mil pessoas participaram em várias capitais brasileiras.
Enquanto isso, 35,8% dos entrevistados declaram preferir a continuidade do atual governo . E só 0,8% não soube responder.
Querer a troca não significa que o brasiliense acredite que ela possa ocorrer: 56,3% dos entrevistados afirmou acreditar que a presidente Dilma Rousseff chegará ao fim do mandato e escapará da pressão popular.
Mulheres contra
A solidariedade com a primeira presidente mulher da história do País ficou longe de ser grande, independente do gênero. As mulheres mostraram apoio a Dilma ligeiramente menor. Enquanto 38% dos homens quer que a presidente continue no cargo, a margem de mulheres que pensam da mesma maneira ficou em apenas 31%.
Apesar de prevalecer a opinião favorável ao impeachment, um dado surpreende: quanto menor a renda, maior é o desejo de substituição de Dilma. Entre os participantes da classe A, 60% são contra a saída de Dilma. Em todas as outras camadas, a maioria se inverte, com a queda da presidente sendo a situação preferida. Na classe E, aparece a maior margem favorável à troca de comando, 73%.
O diretor do Instituto Exata, Marcus Caldas, opina que a falta de apoio ao governo nas classes mais baixas tem a ver com os efeitos da crise econômica, que começaram a se manifestar em 2015. “As pessoas passaram a entender essas consequências. Nas classes C, D e E a vontade de mudança é maior. Por isso uma troca de governo é vista como uma forma de melhoria”, interpretou Caldas.
O Instituto Exata ouviu 600 pessoas no dia 14 de agosto. Foram 54% de mulheres entrevistadas e 46% de homens. Está nos planos do Instituto o monitoramento da opinião sobre o impeachment. Mais pesquisas sobre o assunto estão previstas para as próximas semanas.
Ruim com ela, pior sem ela, pensam elites
A opinião da classe A brasiliense, favorável à permanência de Dilma, pode ser atribuída à insegurança pelas consequências de um processo de impeachment, avalia o cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília. Mesmo que o governo tenha avaliação ruim entre ela, os prejuízos de uma saída podem ser maiores.
“Podem ser pessoas que teêm interesses econômicos. São empresários, profissionais liberais que dependem da estabilidade para ter êxito nos negócios. Esse tipo de gente prefere que, se o impeachment for realmente necessário, seja um processo rápido”, afirmou.
Embora o apoio da classe A seja manifestado na pesquisa, Kramer crê que o acesso a informação na população com mais recursos influencie na percepção sobre a crise política. “Um exemplo claro é que o noticiário que boa parte dos brasileiros tem é aquele concentrado nas televisões abertas. Com maior poder aquisitivo, maior a possibilidade de que o cidadão assista aos canais de notícias da TV paga e as opiniões pessimistas emitidas pelos comentaristas”, lembrou.
O especialista vê nas últimas manifestações o crescimento de um fator que não existia antes. Agora, o eleitor associa a presidente Dilma Rousseff aos escândalos de corrupção e às figuras dos PT que foram presas. “A imagem parece mais contaminada pela impopularidade e o repúdio ao ex-presidente Lula. Isso não ocorria durante o primeiro mandato como está acontecendo agora. Ela inclusive tem demonstrado medo de que a associação das imagens cresça ainda mais”, completou.
Nem defensores da saída apostam nisso
Ainda que a maioria queira Dilma fora do Planalto, a fé no impeachment é minoritária. A maioria das opiniões – 56% – diz que a presidente chega até 2018. A percepção é compartilhada em quase todos os grupos sociais. Na classe A, os entrevistados dividiram-se: 50% para cada lado.
As opiniões emitidas pela classe A nesse tópico diferem um pouco dos resultados demonstrados nas outras perguntas. A vontade de substituir Dilma não passou dos 40% entre os mais ricos.
A faixa etária que mais acredita na permanência da presidente é aquela entre 27 a 37 anos. Entre os ouvidos, foram 65% aqueles que veem poucas chances de impeachment.
Eleitorado fiel
A população idosa é a faixa que mais crê na queda de Dilma. São 71% de respostas ‘não’, 21% de ‘sim’ e outros 8% que não souberam opinar.
Embora esteja diante de um cenário de grande rejeição, o PT parece ter conservado pelo menos 10% do eleitorado cativa. A conclusão do Instituto Exata é que a tradicional votação de 30%, obtida pelos petistas em eleições do passado teria encolhido em dois terços, mas ainda assim mantem o eleitorado cativo da legenda.
A incidência de manifestações em capitais do Nordeste é um fator a ser analisado, segundo Paulo Kramer. Para ele, acaba com a percepção de que a rejeição ao governo estava concentrada no Sul e Sudeste.
Só 10% votariam no PT
A condenação dos envolvidos no Mensalão em 2013 representou um baque na popularidade do governo. Pouco menos de um ano depois, as suspeitas voltaram a manchar a imagem do governo petista. Assim, não é comum ouvir o discurso contra o partido que está no comando do Brasil desde 2003. Os seguidos escândalos de corrupção parecem ter criado uma grande resistência na população ao Partido dos Trabalhadores.
A sensação é traduzida nas respostas para a pergunta “Você votaria em um candidato do PT nas próximas eleições?”. Foram 65% de negativas, enquanto 24% disseram que dependeria do candidato e 10% dos entrevistados não viram problema para votar em petistas.
Os entrevistados acima de 60% forneceram as opiniões mais contundentes contra a presidente. Nesse tópico não foi diferente. Foram 93% dos idosos que disseram não votar em candidatos do PT de jeito nenhum.
A faixa etária entre 38 e 48 anos foi a que se mostrou mais flexível sobre o assunto, mesmo que de forma tímida. Nas opções “depende do candidato” e “sim, votaria”, foram registrados índices de 34% e 14%.
Duas possibilidades
Vale lembrar que existem dois caminhos diferentes para que o impeachment ocorra. Caso o Tribunal Superior Eleitoral julgue irregulares as prestações de contas da campanha de Dilma Rousseff, toda a chapa é anulada. Nesse caso, nem mesmo o vice-presidente Michel Temer, estaria em condições de assumir a cadeira de presidente. Seriam convocadas novas eleições.
A outra possibilidade seria via Tribunal de Contas da União. Lá serão julgadas as operações financeiras do exercício de 2014. Recaem sobre o governo as suspeitas de que houve pedaladas e tentativa de maquiar os índices de desempenho. A oposição tem menos fé nessa hipótese, por acreditar que existem ministros comprometidos com o governo. Além disso, partidos como o PSDB ficariam de fora do jogo, já que não está prevista a convocação de novas eleições e, sim, Temer como substituto.
Petistas se dizem vítima de “criminalização”
O PT brasiliense reclama de criminalização do partido após as denúncias de corrupção.
Líderes do partido consideram a prisão do ex-ministro José Dirceu – que já cumpria prisão domiciliar – como uma tentativa de abalar ainda mais a aceitação da legenda na população.
O posicionamento foi mais discreto do que na primeira prisão, quando Dirceu e o ex-deputado José Genoino, ex-presidente do partido foram tratados como heróis pela militância.
Saiba mais
As investigações da Lava Jato já deixaram o brasiliense mais propenso a querer o impeachment.
No dia 13 de julho, o Jornal de Brasília publicou um levantamento que apontava 75% de pessoas favoráveis à queda da presidente Dilma Rousseff.
À época, o Instituto Exata mostrou que os entrevistados mais jovens eram os mais propensos a querer a troca de comando, como consequência das denúncias de corrupção na Petrobras.
A inclusão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva das investigações foi quase uma unanimidade entre os participantes da pesquisa, com a resposta positiva à questão chegando a 85%.
O rumo preferido dos eleitores no mês passado era uma nova eleição e, em segundo, a assunção do vice-presidente Michel Temer (PMDB), seguida da entrega da presidência ao senador Aécio Neves (PSDB), segundo colocado da última eleição.