Como em uma sala de espelhos, o cérebro humano reflete ações praticadas por outras pessoas. Essa habilidade de alguns grupos de neurônios está relacionada ao comportamento social. Reproduzir, mentalmente, o que terceiros fazem demonstra compreensão e empatia, características prejudicadas em portadores de distúrbios como autismo e esquizofrenia. Um estudo dinamarquês publicado na semana passada fornece evidências de como funciona esse sistema, abrindo possibilidades de se desenvolver, no futuro, terapias mais efetivas contra transtornos que afetam a socialização.
Os chamados neurônios-espelhos foram descobertos muito recentemente. Em meados da década de 1990, cientistas da Universidade de Parma, na Itália, fizeram uma constatação que mudou a forma como os neuropsicólogos discutem o cérebro. Depois de implantar eletrodos na cabeça de macacos, eles perceberam uma explosão de atividade no córtex premotor quando os animais pegavam um pedaço de comida.
A parte anedótica — mas verdadeira — da história é que, um dia, o cientista Giacomo Rizzolatti se deliciava com um sorvete no laboratório. Ele percebeu que, apenas de observá-lo com a guloseima na boca, o córtex premotor dos primatas voltou a ser ativado. É como se, na cabeça dos macacos, eles próprios estivessem comendo.
Assim, foram descobertos os neurônio-espelhos, pequenas estruturas neurológicas que entram em atividade tanto quanto se executa quanto se observa uma ação em curso. “Essas células são de extrema importância para a mente humana e já foram comparadas ao DNA em termos de relevância científica. Os primeiros estudos psicológicos partiam da ideia de que uma mente solitária encara o mundo de forma isolada. Os neurônios-espelhos nos contam outra história. Eles dizem que, literalmente, estamos na mente das outras pessoas”, explica Marco Iacoboni, pesquisador da Universidade da Califórnia em Los Angeles.