A Petrobras corre o risco de ser excluída do seleto grupo de empresas com acesso a grandes investidores internacionais, como fundos de pensão e de investimento.
O alerta foi feito nesta quinta-feira, 4, pela vice-presidente e analista sênior da agência de classificação de risco Moody’s, Nymia Cortes de Almeida.
Um dia depois de rebaixar a nota individual da empresa de baa3 para ba1, a agência informou que “há a possibilidade” também de rebaixamento da nota global da Petrobras, que, com isso, poderá perder o selo de grau de investimento.
Tudo vai depender da capacidade do Tesouro Nacional de apoiar a estatal caso ela tenha dificuldade de arcar com compromissos financeiros e de captar recursos no exterior que garantam a continuidade do pesado plano de investimentos para os próximos anos.
A agência enxerga dois riscos para a empresa. Primeiro, o de não conseguir atender às exigências impostas pela auditora financeira PricewaterhouseCoopers (PwC) e, com isso, perder a confiança dos investidores e liquidez.
O segundo é de, ao mesmo tempo, a União, principal acionista da estatal, ter dificuldade de acesso a recursos do mercado.
A PwC se negou a validar o resultado financeiro da petroleira relativo ao terceiro trimestre deste ano diante das denúncias de existência de um esquema de corrupção na empresa, investigado pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato.
A auditora fez uma série de exigências de controle interno à companhia.
A avaliação da Moody’s é que a primeira medida da empresa em resposta à PwC, a de criação de uma diretoria de governança corporativa, é muito positiva, mas acredita também que a medida não é suficiente e que o restabelecimento da confiança do mercado não acontecerá rapidamente.
Vice-presidente e analista sênior da agência, Nymia Cortes de Almeida reconhece ser “alto” o apoio do governo à petroleira, por causa da importância da empresa para a economia nacional.
“Mas, se a gente imaginar que esse apoio pode ser menor do que o necessário, a nota global da empresa poderá ser rebaixada”, afirmou em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Não só o desempenho da nova equipe econômica da presidente reeleita Dilma Rousseff poderá afetar a nota da Petrobras, mas, principalmente, a demonstração do Tesouro de que se mantém capaz de ter acesso ao mercado.
Segundo Nymia Cortes, a avaliação do risco da empresa não depende tanto do alcance das metas de crescimento econômico, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), ou do superávit primário.
A agência vai observar nos próximos meses, principalmente, a facilidade da União de obter recursos.
Para a Petrobras perder o selo de grau de investimento, teria que ser rebaixada em um nível e meio, o que reduziria o acesso da petroleira ao mercado e ainda tornaria mais caro qualquer financiamento.
A Moody’s já rebaixou na última quarta-feira a classificação individual da Petrobras, de baa3 para ba1.
Neste caso, avalia apenas a gestão da companhia, independentemente de um possível apoio do governo. A nota global da companhia permanece em Baa2, com perspectiva negativa.
Nymia disse acreditar na afirmação do diretor Financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, de que a companhia tem dinheiro em caixa suficiente para não precisar ir a mercado nos próximos seis meses.
No entanto, ela considera que esse prazo é curto para uma companhia com a dimensão e os desafios de investimento da Petrobras.