Conversa do partido do presidente da Câmara com outras legendas sem a participação de peemedebistas acendeu o alerta entre os governistas
Depois de os caminhos se cruzarem no assédio ao PSB, o presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerraram o dia em um jantar na residência oficial do demista. Maia tem conversado com PSB e outras legendas, como o PSD, PHS e Podemos, em busca de uma plataforma única que una os partidos em um projeto de poder para o ano que vem. Incomodado com o risco de o DEM inflar e transformar-se em uma bancada com mais de 50 deputados na Casa, Temer procurou ontem os dissidentes socialistas que o apoiaram na Comissão de Constituição e Justiça e fez um gesto explícito. “Se vocês querem ir para o DEM, por que não vão para o PMDB?”
O gesto foi tão inesperado —a decisão de tomar o café com a líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), não foi comunicado nem mesmo aos ministros palacianos — que gerou um constrangimento em Brasília. O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), teve que negar que estivesse tentando barrar qualquer movimento de filiação de novos parlamentares ao DEM. O próprio Temer, que tem mantido um discurso explícito elogiando o comportamento ético de Rodrigo Maia em todo esse período da crise deflagrada pela delação de Joesley Batista, resolveu marcar o jantar para desfazer o mal-entendido.
O fato é que os dois nomes que dançam em torno da cadeira presidencial neste momento disputam o poder de influência que têm na Casa para assegurar a governabilidade. “Com essas incertezas em relação à posição da bancada do PSDB, Temer precisa ter a certeza de que tem número para remover da frente os empecilhos jurídicos e para continuar encaminhando propostas para serem debatidas pelo Parlamento”, disse um aliado do presidente.
“Essa conversa sobre mudança de partido foi algo en passant. O presidente, na verdade, quis apresentar a pauta do segundo semestre, como a reforma tributária”, disse a líder Tereza Cristina. Maia, por outro lado, quer ampliar os horizontes, após chamar a atenção de investidores e setores políticos como uma alternativa real para completar a transição até 2018. “O que nós estamos fazendo, em conjunto, é reunir um grupo de parlamentares de diversos partidos para apresentar uma nova agenda ao país, fugindo da polarização do PT e do PSDB. Se isso resultar em uma candidatura viável para 2018, tanto melhor”, resumiu o deputado Danilo Fortes (PSB-CE).
Por enquanto, todos os movimentos são cautelosos. Até porque não existe nenhuma janela aberta que permita a troca de partidos sem incorrer nas regras de infidelidade partidária. Além disso, em casos de fusão — que permite aos insatisfeitos deixar o partido em que estão — sempre há o trauma nas negociações. O PSD, por exemplo, que surgiu a partir de dissidência do próprio DEM, teria dificuldades de fazer o caminho inverso, especialmente os diretórios da Bahia e do Rio Grande do Norte.
No caso do PSB, a ala do partido ligada ao vice-governador de São Paulo, Márcio França, defende uma aliança em torno do tucano Geraldo Alckmin para o Planalto em 2018. Maia tem mantido conversa com integrantes do PSB de Pernambuco, especialmente o senador Fernando Bezerra Coelho. Mas o filho dele, Fernando Bezerra Filho, ministro de Minas e Energia, segue no cargo e acompanhou ontem Temer no café da manhã com os dissidentes socialistas. O assédio irritou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira. “O presidente (Temer) saiu dos seus afazeres presidenciais para fazer articulações políticas, o que mostra que a preocupação dele não é com os problemas do país, mas em salvar a própria pele”, reclamou. Para ele, Temer “não agiu como presidente da República, mas como chefe de partido”.
Maia segue cauteloso. Em entrevista ao Programa Roberto D´Ávila, da Globo News, o presidente da Câmara reconheceu que todo político sempre sonha com o máximo — a presidência da República —, mas adiantou que esse projeto passa, em sua cabeça, para daqui a duas ou três eleições. No momento, ele é especulado para o governo do Rio ou para reeleição à Câmara, o que poderia assegurar-lhe uma tentativa de reeleição para a presidência da Casa. Outro demista de ponta, o prefeito de Salvador, ACM Neto, tem praticamente assegurada a eleição para o governo baiano em 2018. “Hoje o DEM não tem nomes de projeção. Passaria a ter dois nomes novos, fortes, governando dois estados importantes”, alertou um estrategista do partido.