Foram expedidos ao menos oito mandados de busca e apreensão, diz o MP. Operação apura suposto esquema de extorsão e propina no governo do DF.
A Polícia Civil do Distrito Federal recolheu documentos e computadores no Palácio do Buriti nesta quarta-feira (17) em uma operação que investiga suposto esquema de pagamento de propina no governo. Foram expedidos pelo menos oito mandados de busca e apreensão, segundo o Ministério Público do DF.
A operação buscou documentos em casas de servidores comissionados e em salas da Secretaria de Planejamento (Seplag), divididas entre o anexo do Palácio do Buriti e o prédio da Codeplan.
A ação, em conjunto com o MP, é fruto das denúncias apresentadas pela presidente do Sindicato dos Servidores na Saúde do Distrito Federal (SindSaúde), Marli Rodrigues, que relatou um esquema de extorsão por parte de servidores para liberar contribuições sindicais.
Em nota, a Seplag informou que em 24 de junho deste ano entregou à Polícia Civil um ofício em que descrevia denúncia sobre o suposto pagamento de propina. “Trata-se, portanto, de investigação de iniciativa do próprio governo de Brasília, uma vez que o encaminhamento da denúncia aos órgãos especializados antecede os áudios noticiados pela imprensa, o que ocorreu a partir da segunda quinzena de julho”, diz a pasta.
A operação é coordenada pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap). Entre os alvos, estão o ex-ouvidor da vice-governadoria do DF Valdecir Medeiros; o ex-técnico em políticas públicas e gestão governamental da Seplag Edvaldo Simplício da Silva, e o ex-gerente de Cessões, Requisições e Ressarcimentos da Seplag Christian Michael Popov.
Segundo a Seplag, os dois servidores da pasta são funcionários efetivos, mas que não ocupam mais cargo de chefia nem função de confiança. “Um deles estava cedido por solicitação da CLDF [Câmara Legislativa] e foi devolvido após a divulgação dos primeiros áudios. Processos administrativos internos também foram abertos para apurar os fatos.”
Medeiros foi exonerado do governo em 25 de julho. À época, o governo do DF informou que ele saiu por conta das denúncias da própria sindicalista. Em uma gravação, Marli diz que Medeiros faria gestões para impedir que o sindicato continuasse a receber os recursos.
Em nota, a vice-governadoria do DF informou que o ex-ouvidor Valdecir Medeiros “não pertence mais ao quadro do Buriti e foi exonerado” em 27 de julho. O órgão disse apoiar as investigações do MP e afirmou que “todas as suspeitas de irregularidades na administração pública serão tratadas com rigor e levadas aos órgãos competentes para investigação”.
Entenda a denúncia
Marli relatou aos investigadores que procurou Valdecir Medeiros após receber um documento assinado por Christian Popov, que cobrava entrega de uma série de documentos para que o SindSaúde continuasse recebendo a verba sindical repassada pelo GDF.
Na ocasião, Marli disse que passou 36 anos sem ser cobrada desta forma, e resolveu pedir ajuda a Valdecir Medeiros porque já o conhecia. Foi então que, segundo ela, o servidor da Seplag Edvaldo Silva a procurou alegando que se pagasse R$ 214 mil em várias prestações, poderia “encurtar o caminho”. Para denunciar a cobrança, a sindicalista resolveu gravar os envolvidos.
Responsável pela denúncia de pagamento de propina, Marli disse que relatou o suposto esquema ainda em dezembro do ano passado. Ela afirmou que espera que as investigações mostrem que ela não mentiu. “Eu ainda acredito que a Justiça vai ser feita. Acredito que nenhuma pessoa merece esse tipo de coação. Acho que os maus servidores publicos é exceção, nao é regra. Sinceramente, acho que a policia vai esclarecer a situação.”
Suposto esquema de propina
Em conversas com o vice-governador, Renato Santana, e com o ex-secretário de Saúde Fábio Gondim, Marli diz saber de um suposto esquema de pagamento de 30% de propina na Secretaria de Saúde. Na gravação, ela questiona o vice se ele tem conhecimento das supostas irregularidades. Santana nega, mas diz saber de propinas de 10% na Secretaria de Fazenda.
Após o vazamento das conversas, a Câmara Legislativa decidiu investigar o caso na CPI da Saúde. Em uma das audiências, Marli entregou um “organograma” que explicaria o suposto esquema de propina. Segundo ela, o documento foi desenhado pelo ex-subsecretário de Infraestrutura e Logística da Secretaria de Saúde Marcos Júnior.