Grupo usava posto bancário no Gama para pagar boletos fraudulentos; em outubro, operação Revés pediu a prisão temporária de 37 pessoas.
A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu na manhã desta sexta-feira (13) o último suposto integrante de uma organização criminosa que teria desviado R$ 3,8 milhões do Banco de Brasília (BRB), em fevereiro de 2016. Lourenço Maurício Martins foi detido na casa de parentes no Gama e, segundo a corporação, estava foragido desde outubro.
Até a tarde desta sexta, outros sete suspeitos estavam presos preventivamente e respondiam a processos na Justiça por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. O grupo foi detido em outubro durante a operação Revés, deflagrada pela Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) e que levou à prisão temporária de 37 pessoas à época.
Segundo o chefe-adjunto da DRF, João Guilherme Carvalho, Martins fugiu do DF e se escondeu na casa de familiares em Anápolis e Goiânia, em Goiás. “Ele era um dos que cooptava empresários para fornecerem contas para a realização de depósitos fraudulentos”, diz.
De acordo com as investigações, o grupo usou uma conveniência bancária do BRB no Gama para pagar boletos e fazer depósitos em nome de várias pessoas físicas e jurídicas. Cada fatura tinha valor próximo a R$ 5 mil, que é o máximo permitido nas transações feitas nesse tipo de posto. As operações eram feitas por um funcionário fantasma, diz o inquérito.
As investigações também apontaram que o tio de Martins e dono da conveniência bancária, Ramon Carvalho Maurício, era o mentor de todo o esquema e atuava em conjunto com outros parentes. Ramon também é suspeito de ter lavado parte do dinheiro no Paraguai.
Até as 16h, Martins estava detido na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE), e a previsão era de que fosse levado ao Complexo Penitenciário da Papuda até o fim do dia.
Fraude milionária
No dia 19 de fevereiro, os suspeitos simularam depósitos e pagamentos de boleto em dinheiro vivo, sem que os valores fossem entregues, de fato, ao banco. “Ou seja, os depósitos foram realmente efetivados pelo BRB, os boletos foram efetivamente pagos, o dinheiro foi transferido para a conta dos beneficiários, mas esses valores não entraram na conveniência, não foram recolhidos aos cofres do BRB”, diz Costa.
O suposto esquema foi idealizado por um dos filhos do proprietário da loja de autopeças do Gama. Os irmãos e o gerente passaram a convencer empresários a fornecer contas e efetuar os pagamentos fraudulentos.
No início das movimentações, os empresários usaram boletos verdadeiros, de dívidas contraídas pelas empresas em que havia a antecipação em até cinco meses do pagamento de fornecedores e tributos. Para efetuar as fraudes sem criar provas, o grupo chegou a retirar o sistema de gravação interno do posto de conveniência.
O grupo fazia a “simulação” de depósitos em dinheiro em conta corrente e o pagamento de boletos fraudulentos feitos por proprietários das empresas Iticar Auto posto Ltda, Solar Auto Posto Ltda e Êxito Auto Posto Ltda.
Segundo a Polícia Civil, parte do valor pode estar em outros países depois de apurar que Ramon viajou para fora do Brasil. A loja de conveniência foi fechada após a fraude ser descoberta.
A operação Revés teve início no fim de fevereiro, dias após o crime. Nesse período, a Polícia Civil analisou as operações fraudulentas e os vínculos entre os suspeitos, usando medidas cautelares sigilosas decretadas pela Justiça. Com esses dados, os policiais estabeleceram toda a engenharia utilizada pelo grupo nas fraudes.