Operação investiga transferências e depósitos falsos feitos em um único dia. Dos suspeitos, 15 foram soltos após depoimento; ‘núcleo duro’ segue detido.
A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu nesta terça-feira (4) 22 pessoas suspeitas de integrar ou colaborar com uma organização criminosa que desviou R$ 3,5 milhões do Banco deBrasília (BRB) com operações fraudulentas. Segundo a investigação, o valor foi recolhido em um único dia, com uma série de depósitos e boletos forjados.
Após prestarem depoimento nesta terça, 15 detidos tiveram a prisão revogada a pedido da própria Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos, que investiga o caso. Os outros sete – suspeitos de integrar o “núcleo duro” da organização – continuavam presos até as 22h de terça, e a Polícia Civil já estudava pedir a conversão da prisão em preventiva, sem prazo definido.
O chefe da delegacia, Fernando César Costa, afirma que o grupo usou uma loja de conveniência bancária do BRB instalada em uma loja de autopeças do Gama. No dia 19 de fevereiro, os suspeitos simularam depósitos e pagamentos de boleto em dinheiro vivo, sem que os valores fossem entregues, de fato, ao banco.
“Ou seja, os depósitos foram realmente efetivados pelo BRB, os boletos foram efetivamente pagos, o dinheiro foi transferido para a conta dos beneficiários, mas esses valores não entraram na conveniência, não foram recolhidos aos cofres do BRB”, explica Costa. O G1 não conseguiu contato com a defesa dos suspeitos.
A operação Revés teve início no fim de fevereiro, alguns dias após o crime. Nesse período, a Polícia Civil analisou as operações fraudulentas e os vínculos entre os suspeitos, usando medidas cautelares sigilosas decretadas pela Justiça. Com esses dados, os policiais estabeleceram toda a engenharia utilizada pelo grupo nas fraudes.
No centro do esquema, segundo a Polícia Civil, estava o dono da conveniência bancária, Ramon Carvalho Maurício. A investigação aponta que ele registrou um funcionário fantasma, com nome falso, para operar os depósitos e transferências. Esse operador foi treinado por cinco dias e desapareceu após executar a fraude.
Até esta terça, a identidade real e o paradeiro desse funcionário ainda eram desconhecidos pela polícia. “Já sabemos que o nome utilizado por esse funcionário é de uma pessoa que teve os documentos subtraídos”, diz o delegado-chefe da operação.
Segundo Costa, o prejuízo de R$ 3,5 milhões poderia ter sido ainda maior, mas algumas operações foram desfeitas nos dias seguintes à operação. “O prejuízo só foi minimizado porque a fraude foi perpetrada numa sexta, e na segunda, foi possível ainda um bloqueio de pelo menos R$ 600 mil em boletos pagos.
Em família
O empresário Luiz Carlos Reis, conhecido como “Iti”, também é listado pela polícia como articulador do esquema. Dono de três postos de gasolina no DF e no Entorno, ele teria usado os estabelecimentos para emitir os boletos fraudulentos. Segundo a investigação, o grupo usou entre 180 e 200 documentos com valor somado de R$ 1 milhão.
O montante foi transferido para Luiz Carlos e para um irmão dele, o policial aposentado José Carlos dos Reis – os dois continuavam presos até a noite desta terça. Segundo Fernando Costa, a polícia segue investigando a responsabilidade de cada irmão no susposto esquema.
O volume de boletos relacionados ao mesmo grupo de empresas, pagos no mesmo dia e na mesma agência chamou a atenção dos investigadores, que decidiram “seguir o rastro do dinheiro”. Eles descobriram que todas as contas que receberam os valores pertenciam às empresas de Luiz Carlos dos Reis ou a pessoas vinculadas a ele.
Para disfarçar a operação fraudulenta, a Polícia Civil diz que o grupo usou um procedimento chamado “mescla”, que consiste em misturar os valores ilegais aos rendimentos de atividades lícitas, como a venda de combustíveis nos postos. “Ficou difícil identificar uma evolução patrimonial que chamasse a atenção”, diz o delegado.
Financiamento
A Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos também investiga se o dinheiro desviado seria usado para financiar campanhas políticas, já que Iti foi candidato a deputado distrital nas últimas duas eleições.
“Sem dúvida nenhuma [isso será investigado]. Estamos a menos de dois anos das próximas eleições, sabemos que é uma época em que candidatos costumam começar a se preparar, sobretudo financeiramente, para os gastos com a campanha”, afirma Costa.
Desde que a Lei da Reforma Política foi sancionada, em 2015, empresas privadas estão proibidas de fazer doações a campanhas. Segundo o delegado, a fraude pode ter sido usada como um recurso para “contornar” a regra e viabilizar uma nova candidatura.
Os sete suspeitos que continuam presos serão indiciados pelos crimes de organização criminosa, furto mediante fraude e lavagem de dinheiro. A prisão temporária vale por cinco dias, podendo ser prorrogada por mais cinco e convertida em prisão preventiva, se um pedido da Polícia Civil for aprovado pela Justiça do DF.