Outros sete, detidos anteriormente, permaneciam na prisão até esta quarta.
Grupo usava posto bancário no Gama para pagar boletos fraudulentos.
A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu nesta terça-feira (18) sete pessoas suspeitas de fazer parte de um grupo que desviou R$ 3,88 milhões do Banco de Brasília (BRB) em fevereiro último. Segundo a corporação, os envolvidos usaram um posto de conveniência instalado em uma loja de autopeças do Gama para pagamento de boletos fraudulentos.
As primeiras fases da operação ocorreram em 4 e 13 de outubro, quando 22 pessoas foram detidas. Segundo a polícia, o valor foi movimentado em um mesmo dia. A investigação teve participação do Ministério Público do DF.
Após depoimento na primeira fase, 15 pessoas tiveram a prisão revogada a pedido da própria Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF), que investiga o caso. Os quatro proprietários da empresa e o gerente do estabelecimento foram detidos nas primeiras fases, tiveram a prisão preventiva decretada e continuam detidos.
Segundo a Polícia Civil, dois irmãos e um primo deles suspeitos de participarem do esquema continuavam foragidos até a manhã desta quarta. Os outros sete detidos – suspeitos de integrar o “núcleo duro” da organização – continuavam presos até as 22h de terça, e a Polícia Civil já estudava pedir a conversão da prisão em preventiva, sem prazo definido.
O chefe da delegacia, Fernando César Costa, afirma que o grupo usou uma loja de conveniência bancária do BRB instalada em uma loja de autopeças do Gama. No dia 19 de fevereiro, os suspeitos simularam depósitos e pagamentos de boleto em dinheiro vivo, sem que os valores fossem entregues, de fato, ao banco.
“Ou seja, os depósitos foram realmente efetivados pelo BRB, os boletos foram efetivamente pagos, o dinheiro foi transferido para a conta dos beneficiários, mas esses valores não entraram na conveniência, não foram recolhidos aos cofres do BRB”, diz Costa.
O suposto esquema foi idealizado por um dos filhos do proprietário da loja de autopeças do Gama. Os irmãos e o gerente passaram a convencer empresários a fornecer contas e efetuar os pagamentos fraudulentos.
No início das movimentações, os empresários usaram boletos verdadeiros, de dívidas contraídas pelas empresas em que havia a antecipação em até cinco meses do pagamento de fornecedores e tributos. Para efetuar as fraudes sem criar provas, o grupo chegou a retirar o sistema de gravação interno do posto de conveniência.
O grupo fazia a “simulação” de depósitos em dinheiro em conta corrente e o pagamento de boletos fraudulentos feitos por proprietários das empresas Iticar Auto posto Ltda, Solar Auto Posto Ltda e Êxito Auto posto Ltda. Todos os documentos tinham valor próximo a R$ 5 mil, valor máximo para a operação no posto de conveniência.
Apenas as quatro empresas foram responsáveis pela movimentação de R$ 600 mil em pagamentos fraudulentos. De acordo com a DRF, o empresário Luiz Carlos Reis, listado pela polícia como articulador do esquema, acionou a Justiça para pedir o desbloqueio do valor, após o BRB identificar a fraude.
“O dolo dessas pessoas era intenso. Principalmente do Luiz carlos dos Reis que, não contente em fraudar, ele acionou a Justiça quando o banco [BRB] identicicou R$ 600 mil como valores fraudulentos”, afirmou o delegado.
As empresas Gama Autocenter, Ferragens Guarani e De Gata Calçados também participaram do esquema e movimentaram R$ 1 milhão do valor total.
Segundo a Polícia Civil, parte do valor pode estar em outros países depois de apurar que Ramon viajou para fora do Brasil. A loja de conveniência foi fechada após a fraude ser descoberta.
Nesta terça-feira (18), o BRB foi informado pela Polícia Civil que a outra loja de conveniência, de propriedade dos três irmãos sócios, também pode ter participado do esquema e foi fechada preventivamente. Em depoimento à polícia, Ramon informou que a intenção inicial era fraudar “somente” R$ 1 milhão, mas os sobrinhos pensaram em estender o valor subtraído do banco, segundo o delegado.
A DRF continua a investigar a forma como o dinheiro chegou aos idealizadores do esquema, mas considera encerrado o levantamento dos crimes cometidos pelo grupo. Cerca de 53 pessoas foram investigadas pelo suposto envolvimento no esquema criminoso, mas a polícia não descarta a participação de outras.
Entenda o caso
A operação Revés teve início no fim de fevereiro, dias após o crime. Nesse período, a Polícia Civil analisou as operações fraudulentas e os vínculos entre os suspeitos, usando medidas cautelares sigilosas decretadas pela Justiça. Com esses dados, os policiais estabeleceram toda a engenharia utilizada pelo grupo nas fraudes.
A Polícia Civil diz que o dono da conveniência bancária, Ramon Carvalho Maurício, estava no centro do suposto esquema. A investigação aponta que ele registrou um funcionário fantasma, com nome falso, para operar os depósitos e transferências. Esse operador foi treinado por cinco dias e desapareceu após o crime.
Os pedidos de prisão expedidos na primeira fase da operação são o proprietário da loja de autopeças onde ocorreu a fraude, Ramon Carvalho Maurício e os sobrinhos dele, que estão foragidos, Daniel Maurício Martins e Lourenço Maurício Martins. O filho de Carvalho, Ramon Carvalho Maurício Filho, também está foragido.
A mulher de Daniel, Letícia Dantas Maurício, e a irmã dela, Lívia Dantas Maurício também tiveram o pedido de prisão temporária decretado. Na primeira fase, Lívia fugiu quando soube da prisão dos parentes, segundo o delegado-chefe da DRF, Fernando César.
Além das sete prisões realizadas na terceira fase da operação, a polícia expediu ainda oito mandados de prisão contra os foragidos Ramon Filho os irmãos Gabriel Maurício Martins, Lourenço Maurício Martins e Daniel Maurício Martins. A polícia não descarta a possibilidade de envolvimento de outras pessoas no esquema.