Policial federal dispara contra dois homens em uma festa num barco, no Lago Paranoá, na noite de sábado. Em depoimento, ele disse que sacou a arma para defender sua mulher, organizadora do evento, depois de uma discussão entre duas convidadas
A festa de aniversário de três amigas tinha tudo para ser uma noite de diversão, mas acabou em tragédia no barco Lake Palace, ancorado no píer do Motonáutica, no Setor de Clubes Norte. A combinação de álcool, ciúmes e uma arma de fogo pode ter provocado a morte de Cláudio Müller Moreira, 47 anos, com um tiro no abdômen. O amigo dele, Fábio Cunha, 37, também baleado, continua internado no Hospital de Base de Brasília, onde passou por uma cirurgia. O autor dos disparos, é o policial federal Ricardo Matias Rodrigues, 44, que se apresentou espontaneamente à polícia e foi liberado depois de prestar depoimento.
A mulher de Cláudio Müller, Valderly da Silva Feitosa, 30, estava em choque. O casal estava junto há 13 anos e tem uma filha de nove. Cláudio tem outra filha, de 20 anos, fruto do primeiro casamento. “É um absurdo acontecer isso em uma festa que só tem família”, disse Valderly ao Correio por telefone. “Ele era uma pessoa do bem, um pai de família, trabalhador e cheio de sonhos e expectativas”, desabafou. “Faltavam só dois anos para ele se aposentar. Estávamos cheios de planos”, contou.
Em depoimento, Valderly relatou que, por volta das 23h, quando todos se preparavam para deixar o barco, foi ao banheiro e, quando saiu, levou três tapas na cara e foi xingada por uma das aniversariantes. Ao contar o ocorrido ao marido, ele perguntou quem havia lhe batido, e ela citou a suposta agressora. Depois disso, Valderly conta que a última lembrança foi a do marido no chão, do lado de fora do barco, e que ela correu desesperada para socorrê-lo.
As circunstâncias do crime estão sendo apuradas pela 5ª Delegacia de Polícia (Área Central). A perícia no local do crime começou por volta das 3h de ontem e terminou às 4h50. Os investigadores colheram as declarações de sete pessoas. Além Ricardo Matias, que atirou, e da mulher dele, a promoter Renata de Andrade Silva, que organizou a festa, foram ouvidos o policial civil José Helder; o marinheiro Françueldo Dantas de Souza e as mulheres das vítimas, Valderly Feitosa e Elaine Alves Santos.
Cinco, das sete pessoas ouvidas pela Polícia Civil, relatam ter havido uma briga momentos antes dos disparos. Uns citam que o desentendimento foi entre duas mulheres por ciúme. Outros não souberam dizer ao certo. Da suposta briga até o momento dos disparos, faltam informações sobre o que realmente aconteceu e há divergência entre as versões apresentadas.
De acordo com uma das aniversariantes a confusão começou muito rápido. “Foi uma briga entre duas mulheres. O marido de uma delas não gostou, foi tirar satisfação e, quando vi, ele estava no chão”, relata a mulher, que pediu para ter o nome preservado. “Uma delas apanhou da outra e chamou o marido para resolver”, disse. Segundo a moça, a festa havia transcorrido sem nenhum indício de briga ou discussão. “Diria que [o culpado] foi o álcool. As vítimas eram convidados da festa, pessoas conhecidas, não tinha ninguém estranho”, avaliou. Para ela, a tragédia em um evento familiar poderia ter sido evitada se o policial não estivesse armado durante a festa.
Defesa
Ao se apresentar à 5ª DP, o policial federal Ricardo Matias disse ter mais de 10 anos na corporação e alegou ter sacado a arma depois que Cláudio e Fábio agrediram sua esposa, Renata. No depoimento a que o Correio teve acesso, ele relata ter percebido uma pequena confusão no meio da festa e que um grupo de pessoas saiu do barco, entre eles, “um homem (uma das vítimas) e uma mulher morena de cabelo grande preto”. E quando tentaram voltar para a embarcação com mais um homem, Renata foi ao encontro deles “para tentar entender a situação”.