Se para a maioria dos brasilienses a volta das chuvas é motivo de comemoração, para alguns a época é de preocupação. A mesma água que ajuda a umedecer o ar e abastecer os reservatórios também se acumula nas pistas, viadutos, calçadas e garagens, trazendo prejuízos para muitos moradores e motoristas.
Lidar com as inundações que todos os anos ocorrem na quadra 402 Norte já entrou para o calendário dos inquilinos. No último prédio da quadra, paralelo à via L2, a força da água que chega ao local assusta. “Quando chove muito, vira um caos. Os porteiros ligam para que os moradores tirem os carros da garagem. O que era para ser uma comodidade quando chove, vira uma dor-de-cabeça”, conta a moradora Ana Beatriz Mendes, 24 anos.
Em abril, a garagem ficou completamente tomada pela enchente, arrastando os carros, que bateram contra paredes, elevadores e em outros veículos. Neste mês, para tentar solucionar o problema antes da temporada de chuvas, os condôminos resolveram fazer uma grade de proteção, desviando até a pista a água que antes descia para a garagem. “É um problema estrutural da cidade que os moradores estão arcando. O governo já aumentou as manilhas, mas é preciso fazer algo mais efetivo”, diz Ana Beatriz.
Toda a região sofre com a correnteza que vem do Eixo Monumental e desemboca no Lago Paranoá. Tanto as tesourinhas como os eixos W e L acabam sendo tomados pelas águas. Com o objetivo de minimizar os impactos, o Governo do Distrito Federal (GDF) trabalha em um plano de contenção de águas na Asa Norte, principalmente nas superquadras mais baixas, como é o caso da 202 e da 402 Norte.
Dois pontos em volta do Estádio Mané Garrincha terão o terreno rebaixado para conter a água que vier de pontos superiores, reduzindo a força das enxurradas. O mesmo rebaixamento de contenção será feito no gramado da quadra 901, no Setor de Grandes Áreas Norte (entre o estádio e o Setor Comercial Norte). As intervenções, de responsabilidade da Secretaria de Obras, incluem, ainda, a construção de meios-fios vazados e abertura de novas bocas de lobo.
Limpeza e manutenção
Nas últimas semanas, mais de mil bocas de lobo foram desobstruídas. Sacos plásticos, embalagens descartáveis, garrafas pet e até um forno microondas foram recolhidos, além de folhas e galhos. Desde o início do ano, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) retirou aproximadamente 24 mil toneladas de lixo.
“Esse é um trabalho que nunca para. Aproveitamos a época da seca para intensificar a manutenção. Atualmente, focamos nas áreas mapeadas como mais sensíveis, sem deixar de atender os demais locais”, afirma o diretor de urbanização da Novacap, Luciano Carvalho. Além das bocas de lobo, a companhia faz a limpeza e reparos nas 16 galerias que escoam a água até o Lago Paranoá.
O diretor destaca que a conscientização em fazer os descartes adequados é essencial para minimizar os impactos da chuva, já que mais de 80% dos dejetos retirados são restos de lixo. “Tudo o que é jogado nas ruas, no chão, acaba nas redes e galerias, entupindo as passagens e gerando as inundações. Além dos transtornos, há a questão ambiental, já que esses dejetos podem acabar desaguando no lago, riachos, represas”. O Distrito Federal tem mais de 100 mil bocas de lobo – cerca de 16 mil só no Plano Piloto. A expectativa é de que mais 4 mil sejam limpas nos próximos 30 dias, antes da chegada das chuvas mais torrenciais.
Previsão do tempo
Apesar das precipitações que devem se prolongar ao longo do fim de semana, o DF ainda está em fase de transição para o fim da seca. “São precipitações intercaladas e que devem ser procedidas por alguns dias sem chuvas. Somente a partir da segunda quinzena de outubro se tornam mais frequentes, até se firmarem, entre novembro e dezembro”, estima o meteorologista do Inmet Manoel Rangel. Até segunda-feira, as temperaturas mínimas devem alcançar a casa dos 17°C e a máxima será de 29°C. Já a umidade relativa do ar fica entre 95% e 35%.