O órgão meteorológico da ONU advertiu, na última quarta-feira, que o ano de 2014 caminha para ser o mais quente da história desde o início das medições. Nos dez primeiros meses do ano, a temperatura global média do ar foi 0,57ºC acima da média de longo prazo.
Se essa tendência for registrada também nos dois últimos meses do ano, 2014 superará 1998, 2005 e 2010 (por uma pequena margem) como o ano mais quente.
O ano foi também de extremos: seca extrema e falta d’água em partes do Brasil; fortes chuvas e inundações inesperadas em outras partes do mundo.
Mas o que pode estar por trás de um ano tão quente e quais as implicações disso?
Segundo a WMO (World Meteorological Organization), o cenário se deve sobretudo às temperaturas recordes registradas na superfície dos mares globais.
Em geral, anos excepcionalmente quentes costumam ser associados à influência temporária do fenômeno climático conhecido como El Niño – que ocorre quando temperaturas da superfície marítima acima da média no leste tropical do Pacífico se somam em um ciclo que se retroalimenta perpetuamente – a sistemas de pressão atmosférica. E isso pode afetar padrões climáticos.
O curioso, porém, é que as altas temperaturas de 2014 ocorreram mesmo na ausência de um El Niño no Oceano Pacífico. Durante o ano, as temperaturas da superfície dos mares globais subiram a níveis semelhantes ao que teriam com o fenômeno, sem que ele chegasse a se desenvolver plenamente.
Além disso, existem as tendências relacionadas à temperatura global: ainda que elas tenham se estabilizado parcialmente nos 15 anos anteriores a 2013 (depois de terem aumentado fortemente a partir dos anos 1970), muitos estudos veem uma relação entre essa “pausa” e a absorção de calor pelos oceanos.
As altas temperaturas das superfícies oceânicas no Pacífico e em outras partes das águas do mundo podem indicar que essa “pausa” está chegando ao fim, mas não há provas concretas para garantir isso. Os especialistas climáticos dizem ser necessário mais de um ano quente para perceber essa eventual tendência.
Anos quentes
Mas outra tendência já observada é a de que estamos entrando em uma era em que recordes de temperatura devem se tornar cada vez mais comuns.
No entanto, isso não necessariamente significa que cada ano será mais quente que o anterior – ainda que essas altas temperaturas estejam inseridas em um contexto de aquecimento global, mudanças climáticas e influência humana.
É possível que se passem alguns anos até que tenhamos um novo recorde de temperatura; e o aquecimento global pode apressar ou retardar esse efeito no curto prazo.
Sendo assim, o que faz um ano ser mais quente que seu antecessor? A resposta depende de vários fatores.
Grandes erupções vulcânicas, por exemplo, podem causar um declínio temporário nas temperaturas graças ao reflexo da luz do Sol resultante de partículas atmosféricas. Isso aconteceu, por exemplo, após a erupção do Monte Pinatubo, nas Filipinas, em 1991.
Flutuações no oceano também podem causar esses altos e baixos temporários.
Só que, ao mesmo tempo, é em regiões terrestres e no Ártico que as temperaturas médias mais aumentaram.
Isso sugere que, apesar da “pausa” mencionada anteriormente nos aumentos de temperatura nos últimos anos, o período se mostrou excepcionalmente quente.
O relatório da WMO sobre o estado do clima global é publicado anualmente para coincidar com as negociações
O secretário-geral da Organização Meteorológica Internacional (WMO, na sigla em inglês), Michel Jarraud, disse que os dados preliminares de 2014 são “consistentes com o que esperávamos de um clima em mutação”.