Descartada pela Caesb no ano passado, possibilidade volta a ser estudada. Dinheiro para obra de captação do reservatório do Descoberto viria da taxa extra
O Distrito Federal pode ganhar até 8 bilhões de litros de água em suas reservas, caso a crise hídrica entre em estado ainda mais crítico. A nova captação viria do volume morto do Reservatório do Descoberto, que corresponde a cerca de 9% do total do manancial. Descartada pelos órgãos reguladores no ano passado, uma proposta avaliada em R$ 9,3 milhões para investimento emergencial na adequação da captação do Descoberto está entre as metas da Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) para uso do valor arrecadado com a taxa extra. A obra divide especialistas, por se tratar de uma quantia de água tida como pequena e devido à qualidade do recurso ser inferior, o que geraria mais custos no tratamento, podendo resultar em aumento na conta dos brasilienses.
O tamanho do volume morto do Descoberto é bastante inferior ao do Cantareira, sendo suficiente para abastecer o DF por menos de 30 dias, segundo a Caesb. Por meio da Assessoria de Imprensa, a companhia afirmou que continua realizando estudos sobre melhorias e adequações na captação do Descoberto. “Várias medidas estão sendo adotadas, como a redução do consumo e de perdas de água no sistema e a construção de novas fontes de captação de água para abastecimento. A reserva de recursos da tarifa de contingência é uma medida preventiva, caso ocorram situações adversas no futuro.”
Prós e contras
Professor de engenharia ambiental da Universidade Católica de Brasília, Marcelo Resende acredita que a escolha desse projeto é uma boa opção para o investimento de parte da quantia arrecadada com a tarifa de contingência. “Ela nos deixa resguardados, pois, mesmo com um aumento do nível dos reservatórios nos últimos meses, estamos entrando na estiagem absoluta”, argumenta. Mas ele faz um alerta: “Isso é um processo que vai encarecer a água.”
O professor Marco Antônio Souza, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, acredita que a obra poderia ser paga com o faturamento mensal da companhia. “Uma melhor aplicação de montantes extras como esse seria para restauração de nascentes. Com um bom estudo, poderíamos mensurar o quanto um trabalho de renovação de olhos d’água poderia trazer de impacto no abastecimento, pois um investimento desse pode trazer um resultado tão grande quanto a obra do volume morto, ou até maior”, pondera.