Empresário Carlos Habib Chater voltou a Brasília em outubro, após ‘temporada’ preso no Paraná. Ele disse ao G1 não temer nova prisão porque ‘no Brasil, tudo é possível’.
Primeiro preso da operação Lava Jato, que completa 3 anos nesta sexta-feira (16), o empresário Carlos Habib Chater voltou a Brasília para cuidar de perto do Posto da Torre, que deu origem e nome à investigação. Cumprindo pena em regime aberto, ele afirmou ao G1 que não teme novas prisões.
“Já achei que a minha primeira [prisão] não foi muito dentro da lei. Ter uma segunda ou uma terceira não me surpreenderia. No Brasil, tudo é possível”.
O posto de gasolina está localizado no Setor Hoteleiro Sul, em uma das regiões mais nobres da capital federal. A movimentação intensa de carros prova que o estabelecimento funciona bem, sem o mesmo impacto destrutivo causado pela Lava Jato em outras empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras.
São 16 bombas de combustível, quatro lojas e dezenas de funcionários que se dividem para atender cerca de 3,5 mil clientes diários. Além de frentistas e seguranças, um grupo é responsável só por atrair novos clientes na rua. “O posto que mais vende no país”, diz um letreiro luminoso.
Segundo o Ministério Público, era ali onde ocorriam boa parte das negociatas e dos acordos que deram origem à Lava Jato. Além de encher o tanque dos carros oficiais, os políticos do Congresso Nacional iam ali para abastecer os cofres com propina da Petrobras.
De volta ao trabalho
Condenado a 5 anos e 6 meses de detenção, o dono do lugar foi considerado culpado por lavagem de dinheiro, associação ao tráfico e pelo repasse de propina a políticos. Chater passou quase três anos preso no Paraná antes de ir para o regime aberto.
Desde outubro, ele voltou a ser visto no posto de gasolina do qual é dono. “Vou lá diariamente. É o meu trabalho. [O posto] Só continua próspero porque é fruto de muito esforço”, disse o empresário.
“A minha vida inteira foi de muito trabalho de sol a sol, apesar de a opinião púbica não acreditar.”
“É um homem simpático. Cumprimenta os funcionários, fala com todo mundo”, disse um taxista que não quis se identificar. “Quando ele foi preso, as coisas mudaram um pouco, mas tudo já voltou ao normal”, contou um funcionário sob condição de anonimato.
Lava Jato com cerveja
O posto é também um “point” para turistas que se hospedam nos hotéis, e endereço certo para o happy–hour de executivos que trabalham nos inúmeros centros empresariais que cercam o local. De quarta a sexta, a partir das 18h, o estabelecimento oferece até música ao vivo.
“Foi meu pai quem me disse que era esse [o ‘Posto da Lava Jato’, novo apelido do endereço na cidade]. É a cerveja mais próxima do trabalho, por isso eu venho sempre depois do expediente”, disse o assistente de qualidade Eduardo Moura, de 28 anos.
Apesar do título dado pela Polícia Federal à operação, o complexo comercial nunca abrigou um lava jato. Em compensação, além das bombas de combustível, hospeda serviços de lavanderia, bar, pastelaria e loja de conveniência. No passado, também foi sede de uma casa de câmbio atualmente fechada – as investigações revelaram que o negócio era usado para lavar dinheiro.
Outra mudança: o posto, que antes só aceitava pagamentos em dinheiro vivo, agora passa cartões de crédito e débito. A restrição anterior, segundo o Ministério Público, também servia para facilitar a lavagem das verbas irregulares. Quem paga no método antigo, agora, consegue desconto de até R$ 0,16 no litro da gasolina.
Envolvido em outras investigações e acusado, por exemplo, de adulterar bombas para que elas operassem com vazão menor que o permitido, Chater nega os crimes pelos quais foi responsabilizado e tece críticas à Lava Jato.
“Fui alvo de difamação. Na casa de câmbio, por exemplo, nunca teve operação irregular. A história dos cartões também é uma grande falácia. O Ministério Público não fez o dever de casa […] Mas acabou. Não tenho mais nada para dizer. Quero esquecer o que aconteceu e viver em paz.”