Categoria e governo fecham negociação com a ajuda de integrantes da sociedade civil, em reunião ocorrida na noite de ontem. Durante o dia, protesto em frente ao Buriti se tornou violento. Brasilienses enfrentaram engarrafamento de três horas
O GDF precisou da intervenção de membros da sociedade civil para resolver o imbróglio com os professores. Na noite de ontem, depois de um dia tenso em frente ao Palácio do Buriti, com direito a gás lacrimogêneo e vidraças quebradas, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) chamou secretários e representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Ordem dos Advogados do Brasil e da Universidade de Brasília, além de deputados distritais — e a federal Érika Kokay — para uma reunião com a categoria em greve. Depois de 2h30 de encontro, a construção de um acordo apontou para o fim da paralisação hoje.
Rollemberg e os secretários Júlio Gregório (Educação), Pedro Meneguetti (Fazenda) e Sérgio Sampaio (Casa Civil) tentaram, mais uma vez, convencer a comissão do Sindicato dos Professores (Sinpro) a aceitar o pagamento do reajuste somente no ano que vem e os retroativos a partir de 2017. A proposta, de novo, recebeu a negativa dos sindicalistas. Então, integrantes da Comissão de Justiça e Paz da CNBB e da OAB, a vice-reitora da UnB, Sonia Báo, e os deputados começaram os trabalhos para tentar sensibilizar os dois lados.
O acordo saiu após o Executivo ceder em dois pontos: rever a questão da multa diária de R$ 400 mil aplicada à entidade durante a paralisação e a reposição do calendário. Um documento será formulado para discussão na assembleia dos docentes, hoje, às 9h30, na Praça do Buriti. “Com relação ao pagamento do salário, houve a disposição de discutir a reposição do calendário. É um avanço que levaremos à categoria amanhã (hoje), a promessa de pagar todos os dias”, afirmou Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro. “Vamos, daqui para amanhã (hoje), fechar a proposta. Tenho certeza de que será bem aceita pela categoria. E é claro que isso está condicionado ao fim da greve”, analisou Rollemberg.
Até o encontro de ontem, o Distrito Federal vivia um problema aparentemente sem solução. Deputados distritais exigiam uma resolução das greves para aprovarem projetos do Executivo de aumento de arrecadação. Segundo o GDF, o incremento no caixa era necessário para garantir os reajustes salariais a 32 categorias, principal motivo das paralisações. Os sindicatos não voltavam aos trabalhos sob o argumento de falta de propostas concretas por parte do governo — no caso dos médicos e dos professores, nem o anúncio do pagamento retroativo, uma das maiores reivindicações dos servidores, seria o suficiente.
Confusão
Mais cedo, a assembleia dos professores na Praça do Buriti virou um ato de protesto contra o governo. Os docentes bloquearam o Eixo Monumental em frente à sede do Executivo e invadiram o gramado do palácio. As cercas de proteção foram danificadas pelos manifestantes, que ainda quebraram um dos vidros da porta de acesso ao prédio. O trânsito ficou lento por três horas. A Polícia Militar revidou e sobrou até para o distrital Wasny de Roure (PT). O petista estava na manifestação com a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) e o distrital Reginaldo Veras (PDT) para intermediar a confusão e acabou atingido por um jato de spray de pimenta.
Segundo as contas do Sinpro-DF, cerca de 5 mil profissionais participaram do ato no Palácio do Buriti — para a PM, foram 1,5 mil servidores. Mas o protesto não ficou restrito ao Executivo. Quarenta professores ocuparam o corredor de acesso à presidência da Câmara Legislativa e fizeram uma greve de fome. A presidente da Casa, Celina Leão (PDT), e o deputado Chico Vigilante (PT) receberam os manifestantes e os deixaram entrar na sala de reuniões do quinto andar do prédio.
Os professores reclamam de propostas apresentadas pelo GDF na terça-feira. Com 17 itens, a lista oficializa as Organizações Sociais (OS) como método de privatização de creches para crianças de 1 a 5 anos. Além disso, Rollemberg manteve o corte de ponto e a multa de R$ 400 mil por dia para o sindicato. O governo também manteve o pagamento das tabelas salariais a partir de outubro de 2016 e o retroativo, em janeiro de 2017. Uma nova assembleia está marcada para hoje, às 9h30.
Há mais gente aderindo à greve. Durante manifestação organizada hoje pelo Sinpro-DF em frente à Câmara Legislativa, o diretor de comunicação da Central Única dos Trabalhadores de Brasília (CUT-DF) Marcos Júnior Duarte anunciou greve geral dos rodoviários na próxima segunda feira. Segundo ele, os sindicatos filiados à CUT promoverão a greve em todo o país e amanhã devem acertar novos acordos em assembleia. A categoria questiona os altos índices de assaltos a ônibus. “A polícia na rua não deve ser para reprimir o movimento legítimo dos professores, e sim para prender bandido”, discursou.
Servidores de pelo menos nove categorias, entre eles os agentes de trânsito, retomaram as atividades na terça-feira, após a promessa do governo em pagar o retroativo. Além de professores e médicos, metroviários, servidores do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), da Novacap e da Companhia Energética de Brasília (CEB) continuam de braços cruzados.