Integrar fazendas de energia solar à criação de um sistema de armazenamento em baterias, além da geração de biocombustíveis para unir produção de fontes renováveis de energia à rede elétrica, ainda são um desafio para cidades e empresas que buscam um ambiente de negócios sustentável. Entretanto, a experiência está em desenvolvimento na cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, cidade que integra o “Cities Race to Zero”, projeto criado no escopo da COP26, da Organização das Nações Unidas (ONU) para incentivar cidades a apoiar negócios ambientalmente equilibrados.
O município acomoda uma experiência em larga escala para a geração de energia limpa integrada à rede de distribuição. Em 2022, somente a (re)energisa, marca que representa as soluções energéticas do Grupo Energisa, pretende aplicar R$ 1,1 bilhão em geração distribuída de energia limpa. A companhia conta hoje com 30 plantas, que somam 100 megawatts-pico (Mwp). Além disso, a empresa busca ampliar a oferta de energia limpa, com a integração a outros métodos de geração de energia, como o processamento de biomassa, ou biogás.
Entre as soluções apresentadas pela empresa, durante uma press trip na última semana à cidade, está o fornecimento de energia para veículos elétricos. “Hoje, é possível alugar um carro elétrico ou um gerador de energia que não seja poluente. E temos aqui a tecnologia necessária para que o condutor, por exemplo, possa transitar com a certeza de que tem um posto de abastecimento próximo”, afirmou o diretor de Negócios e Tecnologia da (re)energisa, Gustavo Buiatti.
A tecnologia aplicada nos veículos já permite viagens de longa distância. Seis anos atrás, carros elétricos de marcas líderes internacionais cumpriam cerca de 150km de autonomia com um único abastecimento, para chegar a até 650km de autonomia nos veículos modernos. “Muitas pessoas viajam de Brasília a cidades de São Paulo em carros elétricos, mas isso somente é possível porque oferecemos um posto de abastecimento em Uberlândia.”
A inovação vem do método de captação e de distribuição de energia. A (re)energisa criou um caminhão que funciona como uma bateria, carregado e recarregado por energia solar, chamado de unidade geradora móvel. “Tudo isso tem uma inteligência por trás, com uma série de análises que são feitas quanto ao segmento. O sistema entende se existe uma falta na rede. Este prédio aqui mesmo, se a gente tiver uma queda da distribuidora local, ele assume e a gente continua aqui no ar condicionado, com energia limpa e inteligente”, detalhou.
O mesmo caminhão é utilizado em outras demandas. O diretor de Engenharia e Operações da (re)energisa, Fernando Costalonga, explica que os equipamentos também são usados durante manutenções programadas das distribuidoras do grupo, mas está em análise a contratação por terceiros. Todo esse sistema é acompanhado numa sala onde está montado o sistema de monitoramento de fornecimento energético da companhia, gerenciado de forma remota.
Entre os potenciais clientes, estão condomínios — que também podem ter unidades geradoras próprias —, o setor hospitalar (que sofre com incêndios causados por geradores movidos a diesel), e as próprias fornecedoras de energia, que precisam interromper fornecimento energético para realizar manutenções da rede, por exemplo. “Já temos alguns negócios nesse modelo. Mas com o uso do caminhão ainda é experimental”, explicou.
Política pública
Uberlândia, cidade na região do triângulo mineiro, é uma das poucas no Brasil a ter política pública voltada para a redução de poluentes ao meio ambiente, esforço do qual a implantação de tecnologia para geração de energia limpa por meio da captação solar é parte, contribuindo para a atração de investimentos locais, como os da (re)energisa.
Desde 2021, Uberlândia integra o “Cities Race to Zero”, projeto nascido no escopo da COP26, a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o clima, um esforço global que une cidades, regiões, empresas e investidores para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 ºC, segundo o Acordo de Paris.
A cidade possui unidades híbridas para a geração de energia solar fotovoltaica, aquela produzida a partir da luz solar, e tem sido cada vez mais procurada por brasileiros que pretendem economizar na conta de energia. Quanto maior a incidência de irradiação solar sobre as placas, maior será a quantidade de energia elétrica produzida. A energia solar é considerada renovável, limpa e sustentável para o meio-ambiente.
As “fazendas” estão em pleno funcionamento no distrito industrial da cidade mineira. A unidade em plena operação, instalada em 1,3 hectare, com investimento de R$ 4 milhões, oferece uma redução entre 10% e 20% no custo para as empresas do entorno.
A proposta de instalação de placas de energia solar em áreas de cidades do interior objetiva criar fontes de geração de energia alternativa em boa localização. “Se uma distribuidora de energia precisa fazer uma interrupção, com a energia gerada numa fazenda urbana, podemos prestar fornecimento (por substituição de fonte) no período interrompido pela rede tradicional”, explica Buiatti.
Entre outros exemplos de consumo na cidade está o complexo do Parque do Sabiá, que possui um sistema sustentável de energia para alimentar as áreas de lazer, o estádio e a Arena Sabiazinho. A prefeitura investiu R$ 894 mil, que deverão ser recuperados em até três anos, com economia anual de R$ 300 mil.
O Parque possui uma usina exclusiva, com 628 placas. “É um sistema que, além de ser sustentável, terá a capacidade de deixar a conta de energia do todo o complexo mais barata”, diz Odelmo Leão (PP), prefeito da cidade.
*A repórter viajou a convite da Energisa
Por Correio Braziliense