Neste sábado (9), foram realizados protestos em pelo menos doze capitais de todas as regiões do país para cobrar justiça pelo assassinato de Moïse Kabagambe e homenagear o congolês, de 24 anos, que foi espancado até a morte no último dia 24, no Rio de Janeiro.
Os atos contra o racismo e a xenofobia se deram de forma pacífica e reuniram centenas de pessoas. Em Redenção (CE), primeira cidade brasileira a libertar todos os seus escravos, estudantes também lembraram Moïse e pediram respeito à população negra.
Em Berlim, na Alemanha, manifestantes também se reuniram em frente à embaixada do Brasil.
Veja abaixo mais detalhes sobre as manifestações.
Rio de Janeiro
O ato começou em frente ao quiosque Tropicália, onde Moïse foi morto a pauladas por vários homens, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. As duas pistas das Avenida Lúcio Costa chegaram a ser interditadas, e centenas de pessoas participaram de uma caminha pela orla do bairro.
Houve um princípio de tumulto, quando manifestantes atacaram o quiosque e chegaram a tentar retirar o letreiro, segundo informações da GloboNews. Em um carro de som, onde estavam parentes de Moïse, organizadores pediram que o ato seguisse de forma pacífica, e os ânimos se acalmaram.
Moïse trabalhava por comissões nos quiosques do local – no Tropicália e no Biruta, que a prefeitura do Rio anunciou que vão virar um memorial à cultura africana e serão administrados pela família do congolês. O objetivo, segundo a prefeitura, é promover a integração social e econômica de refugiados africanos.
São Paulo
O protesto, convocado por ativistas e integrantes de movimentos negros, começou na manhã deste sábado (5) no vão do Museu de Arte Moderna de São Paulo(Masp), localizado na Avenida Paulista, centro financeiro da capital.
Os manifestantes, entre eles vários imigrantes, pediram “justiça” pela morte de Moïse, recitaram poesias africanas e conversaram sobre as dificuldades que imigrantes e refugiados enfrentam ao chegar no Brasil, pedindo mais apoio do governo. Por volta das 12, o ato chegou a ocupar uma via da Avenida Paulista, que foi bloqueada para carros.
Salvador
Na capital baiana, o ato foi organizado pela “Coalizão Negra por Direitos” e outras 19 entidades. Os participantes se reuniram no Largo do Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador, por volta das 10h, e dispersaram às 12h30.
Entre os grupos que marcaram presença do protesto estão o Olodum, a banda Didá e o Ilê Aiyê Músicos rufaram tambores e usaram a música de origem africana para prestar homenagem a Moïse, em sinal de luto.
Os manifestantes também lembraram os sete anos da chacina do Cabula, quando 12 pessoas foram mortas por policiais militares, outras seis pessoas foram baleadas, mas sobreviveram. Quase todos presentes no ato usavam máscara facial, mas muitos não respeitaram distanciamento necessário para evitar a disseminação da Covid-19.
Brasília
A manifestação, organizada pelo movimento “Pelas Vidas Negras DF”, reuniu dezenas de pessoas em frente ao Palácio do Itamaraty, na Esplanada dos Ministérios, para pedir justiça para os responsáveis pelo assassinato de Moïse.
Durante o protesto, os participantes fizeram um ato simbólico lavando líquido vermelho que representava o sangue das vítimas de crimes com teor racial.
Os cartazes reforçavam a luta contra o racismo e a xenofobia, e também lembravam a morte de Durval Teófilo Filho, homem negro assassinado por um vizinho que disse tê-lo confundido com um “bandido”, também no Rio.
Recife
Em ato, convocado por ativistas, os manifestantes se reuniram na Avenida Conde da Boa Vista, região central da capital pernambucana. A concentração do protesto começou por volta das 16h, em frente a um centro de compras da via.
Os manifestantes levaram faixa, bandeiras e cartazes. Algumas pessoas utilizavam roupas típicas de outros países. Com tambores de maracatu, os manifestantes pediam “o fim do extermínio dos pretos”
Belo Horizonte
O ato na capital mineira contou com o apoio de 37 grupos da sociedade civil e partidos políticos e foi realizado na manhã deste sábado (5). A concentração começou às 10h, na Praça Sete, no Centro da capital, e seguiu até a Praça Raul Soares.
Em cartazes contra o racismo e a xenofobia, manifestantes pediram justiça. Uma das manifestantes, Mariana Fernandes, integrante do Movimento de Mulheres Olga Benário, cobrou respostas para que outros jovens negros não sejam assassinados.
“A maior parte dos jovens mortos no nosso país são negros. Há uma falta de políticas públicas para o enfrentamento dessa realidade”, disse.
Natal
Representantes de movimentos sociais e do movimento negro se reuniram na esquina da Avenida Rio Branco com a Avenida João Pessoa , um dos trechos mais movimentados no centro comercial de Natal, por volta das 9h.
Os manifestantes usavam máscaras e fizeram discursos contra o racismo e a xenofobia. Muitos vestiam camisa antirracistas.
Porto Alegre
A manifestação foi organizado pelo Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão sobre Migrações da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Nepemigra, e realizada no Parque da Redenção
No local, pessoas empunhavam faixas e cartazes pedindo justiça pelo assassinato de Moïse, que foi espancado e morto com mais de 30 pauladas.
São Luís
O ato, que começou por volta das 9h e se dispersou às 12h, reuniu dezenas de pessoas e foi organizado pelo Comitê Maranhense de Combate ao Racismo e Xenofobia com o apoio do Centro de Cultura Negra, Coalização Negra por Direitos e estudantes africanos.
Com discursos, os participantes se manifestaram contra o assassinato do congolês e também contra o racismo em um ato na Praça Deodoro, na área central de São Luís. A manifestação contou com apresentação cultural de grupos.
Curitiba
Moradores de Curitiba se reuniram no Centro histórico da cidade, em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário construída e destinada a negros escravizados.
Nos cartazes, os manifestantes pediam justiça por Moïse, para que se pare de matar homens e mulheres pretos, alertavam para a normalização da barbárie e que vidas negras importam.
“Nós migramos com os nossos direitos aqui para o Brasil, então, tudo isso tem que ser respeitado. Moïse morreu hoje por desrespeito por ser imigrante, por ser congolês. Mas, amanhã pode ser eu”, disse Gloire Nkialulendo, presidente da Associação de Africanos de Curitiba (Bomoko).
Cuiabá
Os manifestantes se reuniram com faixas cobrando justiça pela morte do congolês na praça da Mandioca, no centro de Goiânia, neste sábado.
No palanque, participantes se revezaram nos discursos e falaram sobre os casos de racismo no Brasil.
“O racismo é a interdição cotidiana que as pessoas negras têm de ocupar espaços de poder. O racismo é a compreensão da branquitude que chegou primeiro controlando o estado e não abre espaço para nenhum negro entrar”, discursou a vereadora Edna Sampaio (PT).
Palmas
Representantes da Associação Dos Filhos e Amigos da África (AFAA) fizeram um ato no início da noite deste sábado (5) na praça dos Girassóis, no início da noite deste sábado. Os participantes utilizaram camisetas com a frase: “ Tocantins está com Moïse Kabagambe. Justiça, Justiça, Justiça”.
“Esse ato para nós é uma reflexão. É um ato para abrir o diálogo contra o racismo, e para nos unir. Não podemos nos manter calados, precisamos estar juntos” disse Aires Panda, um dos membros da associação.
Ceará
Participantes de movimentos sociais e alunos da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) realizaram, na tarde deste sábado (5), um protesto pela morte de Moïse Kabagambe, em Redenção, no Ceará.
O ato ocorreu nas proximidades do monumento Negra Nua em frente ao campus da Liberdade, da Unilab e foi convocado pelo coletivo das Associações de Estudantes Africanos da instituição.
Redenção foi a primeira cidade brasileira a libertar todos os seus escravos, em 1883, cinco anos antes da abolição da escravatura em todo o Brasil, com a assinatura da Lei Áurea em 1888. A cidade sedia a universidade, que é destinada a alunos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) como Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste.
Usando máscaras de proteção contra a Covid-19, os estudantes exibiam faixas que pediam Justiça e respeito pela população negra. Os cartazes traziam mensagens como “justiça por Moïse”, “a carne mais barata do mercado é a carne negra” e ainda “nós somos humanos”.
Para o professor moçambicano do Instituto de Humanidades, Segone Ndangalila Cossa, além de prestar uma homenagem a Moïse, os participantes celebram a comunhão da nação africana.
“Será também um momento de celebração de comunhão e de organização negra africana para homenagear Moïse Kabagambe, que foi um imigrante congolês brutalmente assassinado no Rio de Janeiro. E o nosso coro junta-se ao coro nacional”, explicou.
Berlim
Dezenas de manifestantes se reuniram, em Berlim, para pedir justiça e se solidarizar com os atos de protesto no Brasil pela morte de Moïse. Segundo a DW, o protesto aconteceu em frente à embaixada do Brasil.
Ainda de acordo com informações da agência, manifestantes se revezaram ao microfone para pedir que o caso não fique impune. Eles lembraram que Moïse foi para o Brasil em busca de segurança, mas acabou morto de forma brutal. Também foram cantadas músicas brasileiras que fazem referência ao sofrimento dos negros na história do país.
Fonte: G1