Conclusão surgiu após segunda fase da Operação Perfídia que buscou provas em 11 estados e no DF. Além da lavagem de dinheiro e evasão de divisas, grupo falsificava documentos públicos, afirmam Ministério Público Federal e Polícia Federal.
Uma organização criminosa que atuava em cinco países com lavagem de dinheiro, falsificação de documentos públicos e evasão de divisas seria coordenada por uma advogada de Brasília. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal chegaram a esta conclusão a partir da segunda fase da Operação Perfídia, deflagrada na quarta-feira (26) em 11 estados e no Distrito Federal. A operação resultou no cumprimento de 100 mandados, sendo 55 de busca e apreensão, 43 de condução coercitiva e dois de prisão temporária.
Os presos são a advogada Cláudia Chater, que tem um escritório em um shopping na Asa Norte, e Edvaldo Pinto Ribeiro, apontado pelos investigadores como um dos principais aliados de Cláudia nos atos criminosos. Os dois vinham sendo investigados pela PF desde agosto do ano passado, após a prisão de um jordaniano no Aeroporto Internacional de Brasília. O homem vinha de Paris e portava um passaporte brasileiro que as investigações mostraram ser falsificado.
De acordo com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, o passaporte havia sido providenciado por Cláudia Chater. A partir de um novo inquérito, ainda segundo o MPF e a PF, surgiram indícios de que a advogada comandava uma organização que atuava na emissão de passaportes brasileiros a pessoas de origem árabe.
Núcleos da organização criminosa
Além dos documentos falsos, a quadrilha também realizaria operações ilegais de câmbio e a compra de terras para lavagem de dinheiro. Mais de 40 pessoas estariam envolvidas nas atividades ilícitas, e divididas em núcleos.
Segundo o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, o chamado “núcleo duro” do esquema era formado por Cláudia e pessoas que compõem o círculo familiar da advogada, entre os quais aparecem irmãos, sobrinhos, cunhados e um tio.
O “núcleo de apoio” tinha entre os integrantes advogados, empresários, contador, e profissionais que auxiliavam na falsificação de documentos e na prática de outros crimes como lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Nestes casos, as irregularidades seriam viabilizadas por meio de transações fraudulentas, como a compra de imóveis a preços fora da realidade do mercado e pelo envio de remessas de dinheiro para o exterior por meio de uma offshore.
O terceiro núcleo mencionado na investigação é o dos falsificadores. Haveria ainda outro grupo de “laranjas”, que escondiam a verdadeira identidade dos donos dos imóveis e dos responsáveis pelo envio de dinheiro ao exterior.
Um quinto núcleo seria formado por agentes públicos, serventuários de cartórios de registro civil, de concessionárias de serviços públicos e de órgãos policiais. Neste caso, MPF e PF dizem que “nem todos os envolvidos foram identificados, o que se espera conseguir a partir das medidas desta etapa da investigação”.
Continuidade das investigações
Nos pedidos enviados à Justiça, MPF e PF defendem a continuidade das investigações. Para os investigadores, “os indícios encontrados até o momento apontam para um esquema maior, com ramificações em outros crimes”. Um indicativo seriam as empresas usadas pelo grupo. Já foram identificadas pessoas jurídicas ligadas aos integrantes do esquema em vários ramos como casas lotéricas, postos de gasolina, hotéis, administradoras de imóveis e até lojas de tecido.
Os altos valores movimentados pela organização são mencionados como um dos indicativos do alcance das atividades criminosas. Em uma única transação, uma offshore com sede na Venezuela, movimentou US$ 5 bilhões. A mesma empresa é apontada como a compradora de uma fazenda no valor de R$ 100 milhões. Neste caso específico, as investigações revelaram o pagamento de uma comissão de R$ 1,5 milhão a Cláudia Chater.
Parentesco
Claudia Chater é prima de Carlos Habib Chater um dos primeiros presos na Operação Lava Jato. O doleiro Habib Chater é dono do Posto da Torre, o posto de gasolina que deu origem ao nome da operação.
Cláudia Chater e Edvaldo Pinto Ribeiro continuam presos temporariamente. Até a publicação desta reportagem.