Rapaz reconhecido em cima de ônibus arrastado não sabe nadar, mas pai mantém a esperança de encontrá-lo vivo
Dois coletivos que vinham do Centro afundaram na enxurrada, e passageiros estão entre os desaparecidos. Gabriel da Rocha, de 17 anos, tinha ido ao centro trocar uma mochila.
“Claro que tenho esperança. Vamos achar ele ainda. Gabriel é um garoto esperto”, diz o marceneiro Leandro da Rocha, de 49 anos.
Leandro conta que o filho foi ao centro da cidade trocar uma mochila rasgada e quando estava voltando para casa foi surpreendido pelo temporal. A família mora no bairro Quitandinha, a uns 3 km de onde Gabriel estava.
Nas imagens, é possível ver o jovem de roupa preta saindo pela janela e tentando se equilibrar na lateral do ônibus, que acabou tombando com a força da água (relembre no link do vídeo abaixo).
Os ônibus faziam as linhas 401 (Independência) e 465 (Amazonas).
Um homem observa dois ônibus destruídos após temporal com deslizamentos em Petrópolis (RJ) — Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Desde então, o pai procura o filho.
“Desde aquele dia estou procurando por ele, já revirei a cidade, fui a todos os hospitais, IML e pontos de apoio e nada”.
Para o pai, as buscas das equipes de resgate devem se concentrar na região próxima ao rio, onde os ônibus foram atingidos.
“Não estou vendo buscas pelo Rio Quitandinha, onde os ônibus caíram. Eu acho que que tem que ter um empenho maior nessa área. Eu mesmo já percorri o rio do ponto onde o Gabriel estava até a cidade. Mas ainda não vi equipes lá”, fala preocupado.
Gabriel cursa o 2º ano do ensino médio e luta jiu-jitsu. Ele tem dois irmãos e vive com o pai e a madrasta. Segundo o pai, o jovem nunca deu trabalho.
“Estou chorando desde aquele dia. Tem hora que bate um desespero… Enquanto não achar meu filho, eu não paro. Alguém tem que me ajudar”.
Leandro, Gabriel, a madrasta e os irmãos — Foto: Arquivo pessoal
Não houve um deslocamento de nuvens que pudesse servir de alerta para a meteorologia: o temporal se formou em cima de Petrópolis e, por conta do relevo, ficou preso sobre a cidade, despejando 259 mm de água em menos de uma tarde.
A cabeça d’água
A água da chuva descia de todas as encostas e percorria os eixos até o Centro com velocidade constante e volume crescente.
A calha do Rio Quitandinha tem em média cinco metros de profundidade. Quando os dois ônibus chegaram na altura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Centro, o leito já estava transbordando, e um bolsão d’água impedia o caminho.
Os coletivos pararam, esperando que a água baixasse.
Ao invés disso, a enxurrada foi se avolumando.
Uma pessoa gravou um vídeo de dentro de um desses ônibus. “A situação aqui é essa: para-brisas quebrados, o interior todo tomado”.
Enxurrada que arrastaria os ônibus foi aumentando aos poucos — Foto: Reprodução/TV Globo
Em pouco tempo, a correnteza já fazia entrar água dentro dos ônibus.
A poucos metros dali, uma encosta cedeu, e o barranco desabou sobre o Rio Quitandinha. A queda da barreira provocou um tsunami, que foi engolindo tudo em direção aos coletivos.
Àquela altura, já não se sabia o que era Rua Washington Luís, o que era calha, o que era Rio Quitandinha.
Nos vídeos feitos por vizinhos, contam-se pelo menos 13 pessoas lutando pela vida — uma delas, era Gabriel.
Queda de barreira provocou um tsunami no Rio Quitandinha — Foto: Reprodução/TV Globo