Raquel Dodge recebe parecer favorável para se tornar procuradora-geral e tende a ter a chancela de parlamentares do governo e da oposição
Conforme calendário previsto pelo governo, caminha rapidamente o trâmite para a aprovação do nome da subprocuradora-geral Raquel Dodge ao posto de procuradora-geral da República (PGR). Enquanto Raquel cumpria uma extensa agenda de visitas de cortesia aos senadores para se apresentar — praxe nesses casos —, o senador Roberto Rocha (PSB-MA), relator da indicação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), protocolava o relatório que será lido hoje, no qual confirma a aptidão dela para exercer o cargo.
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Segunda colocada na lista tríplice eleita pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Raquel foi escolhida pelo presidente Michel Temer na quarta-feira da semana passada e será sabatinada e apreciada pela CCJ do Senado na próxima quarta. Apesar de o mandato do atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, terminar só em 17 de setembro, a celeridade na burocracia para que Raquel possa assumir é uma estratégia articulada entre o governo e os aliados para tentar esvaziar as ações de Janot. O procurador-geral deve apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) em breve uma nova denúncia contra Temer.
Em mais da metade das cinco páginas do relatório entregue à CCJ, Rocha resume os aspectos mais importantes do extenso curbrículo da subprocuradora, e destaca que, ainda assim, “exige enorme esforço de síntese.” A atuação da procuradora na Operação Caixa de Pandora também foi destacada pelo relator. “Foi designada pelo procurador-geral da República para desempenhar, por delegação, importantíssimas funções em casos específicos, como a persecução criminal ao então deputado Hildebrando Paschoal e a liderança da chamada ‘Operação Caixa de Pandora’, que teve entre um de seus pontos culminantes a prisão — inédita até hoje — de um governador no exercício de suas funções, o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda”, frisa.
Em contraponto às críticas feitas a Temer por ter quebrado uma tradição iniciada em 2003 de indicar o primeiro nome da lista tríplice, Rocha destaca no texto os 587 votos, entre os 1.108 eleitores, que Raquel recebeu na eleição promovida pela ANPR. “Apenas 34 votos a menos que o mais votado (pouco mais de 3% de diferença), sendo que foi a campeã de votos individuais, entre aqueles que optaram por apenas um candidato. Tem, portanto, amplo apoio da categoria”, ressalta. Raquel ficou em segundo lugar na lista, atrás do subprocurador-geral Nicolao Dino, que recebeu 621 votos. Dino era o nome preferido de Janot.
Apresentação
Praxe nos processos de sabatina no Senado, Raquel Dodge passou o dia ontem em visitas de cortesia a senadores para se apresentar e pedir apoio na votação marcada para semana que vem na CCJ. O relator da indicação foi um dos primeiros a recebê-la. Na semana passada, no mesmo dia em que Temer anunciou seu nome, Raquel esteve com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). A subprocuradora tem outros encontros marcados para hoje e amanhã.
Em carta enviada aos senadores, a primeira mulher indicada para a Procuradoria-Geral da República ressaltou que se preparou a vida toda para assumir esse cargo. Se depender dos senadores, tanto governistas quanto da oposição, ela não terá dificuldades em ser aprovada. Com mais de um quarto dos parlamentares denunciados no âmbito da Operação Lava-Jato, Rodrigo Janot não é bem quisto pela maioria. “Há um contentamento geral com o nome dela. Ela é crítica do modus operandi da Lava-Jato. Isso é bom para o governo, mas também para a oposição”, comenta um petista que prefere não se identificar.
Lira é líder do PMDB no Senado
A bancada do PMDB no Senado escolheu o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) como novo líder do partido na Casa. Ele substitui o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que deixou o cargo após reiteradas críticas ao governo de Michel Temer e às reformas trabalhista e da Previdência. “Temos a convicção de que não vamos liderar uma bancada com pensamento único”, afirmou o novo líder. A escolha foi por consenso e não houve votação. Desde a semana passada, quando Renan deixou o cargo, outros nomes chegaram a ser cotados, porém quase todos desistiram de disputar a vaga por conta da crise política envolvendo o governo do presidente Michel Temer, incluindo Simone Tebet (MS) e Waldemir Moka (MS). Lira, que já havia disputado a vaga antes com Renan, é visto agora como um nome neutro, que poderia acalmar os ânimo.