Os corpos dos ciclistas Hilberto Oliveira da Silva, 47 anos, e da esposa dele, Vera Lucia da Cruz Sampaio, 42, foram velados, na manhã desta quarta-feira (20/4), no Cemitério Campo da Esperança do Gama.
Familiares, amigos e ciclistas reuniram-se para dar o último adeus ao casal. Envoltos num clima de inconformidade pelas mortes prematuras em acidente de trânsito provocado por uma mulher que dirigia embriagada, no domingo de Páscoa (17/4), a despedida ficou marcada por homenagens, revolta e protesto.
Familiares usavam camisetas com a foto do casal e os dizeres: “A vida de vocês aqui na Terra foi tão bela, feliz e contagiante. Para nós, familiares e amigos, ficam os exemplos de amor, carinho e a saudade eterna de todas as coisas boas que vocês transmitiram. Descansem em paz!”.
Prima de Hilberto, Kelly Ribeiro, 38, considerava o ciclista um irmão. “Dói saber que duas pessoas inocentes se foram e a mulher que provocou tudo isso está livre. O meu primo não foi nem sepultado ainda, e a mulher já está na rua”, indignou-se.
Ao pedir por Justiça, Kelly deixou uma mensagem para a motorista. “Eu sei que você está assistindo às reportagens. Você está na sua casa e consegue dormir sabendo que tirou a vida de dois inocentes por falta de responsabilidade?”, questionou.
“Ela diz que não lembra do acontecido, que cochilou ao volante. Você tem de pagar. A gente vai lutar até o fim. Do mesmo jeito que tirou a vida do meu primo, é capaz de tirar a vida de outras pessoas”, comentou a prima.
Durante a cerimônia, diversos grupos de ciclismo compareceram para prestar as últimas homenagens. A professora Maria Elis, 41, faz parte do grupo Garotas do Pedal.
“Viemos prestar solidariedade. Pedir paz no trânsito e respeito. Vivemos vulneráveis nas ruas como ciclistas. Cada vez que acontece uma coisa dessas, a gente fica com medo de sair às ruas para pedalar. É muito triste”, lamentou.
Durante o cortejo fúnebre, cerca de 10 ciclistas formaram dois cordões com suas bicicletas, dando o último adeus aos parceiros de ciclismo.
Abalados, o filho de Hilberto e a irmã de Vera não saíram de perto dos caixões e preferiram não dar entrevistas. No total, cerca de 50 pessoas acompanharam a despedida aos ciclistas. Amigos e parentes cantaram músicas e finalizaram a homenagem com uma salva de palmas.
Acidente
O casal pedalava em Santa Maria quando acabou atingido pelo veículo conduzido por Stefania Midiã Silva de Araújo, 36 anos. Vera Lúcia chegou a ser encaminhada ao Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Ela apresentava fratura em um membro inferior e possível traumatismo craniano, mas não resistiu aos ferimentos. Hilberto morreu no local.
A condutora foi presa pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) após constatarem que ela dirigia sob efeito de álcool. Segundo os militares, a motorista não se feriu e relatou não saber como o acidente teria acontecido.
Solta sem pagar fiança
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) concedeu, na segunda-feira (18/4), liberdade provisória para Stefania. A juíza substituta Verônica Capocio ressaltou que a manutenção da prisão da condutora “somente subsistirá em caso de extrema e comprovada necessidade”.
“Vê-se também que a mesma se apresentou ao policial condutor do flagrante e informou que havia feito consumo de bebida alcoólica, ou seja, não pretende se furtar à aplicação da lei penal, razão pela qual entendo que não é necessária a segregação cautelar da autuada antes do momento constitucional próprio, qual seja o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória. Assim, a liberdade, que é a regra, deve prevalecer durante o trâmite da persecução penal”, sentenciou.
A magistrada, porém, suspendeu o direito de dirigir de Stefania.
Nessa terça-feira (19/4), o grupo de ciclistas Pedala Crente protestou contra o atropelamento do casal. O grupo pediu paz no trânsito. A concentração ocorreu às 18h30 no estacionamento do BRT de Santa Maria. Cerca de 300 pessoas participaram do ato.
Fonte: Metrópoles