A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, classificou como “atos deliberados” os vazamentos que afetam o Nord Stream 1 e o Nord Stream 2 — os dois gasodutos ligam a Rússia e a Europa através do Mar Báltico. “O parecer das autoridades é que se trata de atos deliberados. Não estamos falando de um acidente”, declarou, sem apontar nenhum suspeito em particular. Bolhas gigantescas de 200m a até 1km de diâmetro foram filmadas e fotografadas por tripulantes de caças F-16 dinamarqueses. A companhia norte-americana Planet Labs PBC também divulgou imagens feitas por satélite.
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen conversou com Frederiksen e citou “sabotagem”. “É fundamental investigar os incidentes e obter total clareza sobre os eventos. Qualquer interrupção deliberada da infraestrutura energética europeia ativa é inaceitável e levará à mais contundente resposta possível”, advertiu ela.
Para Mykhaylo Podolyak — conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky —, o “vazamento de gás” do Nord Stream 1 é “nada mais do que um atentado terrorista planejado pela Rússia e um ato de agressão para com a União Europeia”. Ele acusou Moscou de tentar desestabilizar a situação econômica e causar pânico às vésperas do inverno, que começa em 64 dias. “A melhor resposta e investimento em segurança incluem tanques para a Ucrânia, especialmente da Alemanha”, acrescentou.
Por sua vez, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, admitiu que a situação envolvendo o gasoduto Nord Stream 1 é “sem precedentes” e exige investigação, além de afetar a segurança energética de toda a Europa. “Estamos muito preocupados”, comentou. Ele também não excluiu a possibilidade de sabotagem. “Nenhuma opção pode ser descartada agora”, disse.
“Nós registramos duas explosões no Mar Báltico, próximo à ilha dinamarquesa de Bornholm. A primeira delas ocorreu às 2h03 de segunda-feira (21h03 de domingo, em Brasília), a sudeste de Bornholm, com magnitude equivalente a 1.8 na escala Richter. A segunda ocorreu às 19h04 de segunda-feira (12h04 em Brasília), a nordeste de Bornholm, com magnitude equivalente a 2.8”, afirmou ao Correio, por e-mail, Björn Lund, professor de sismologia da Universidade Uppsala e diretor da Rede Sísmica Nacional Sueca.
Ondas sísmicas
Ele explicou que terremotos e explosões produzem quantidades diferentes de ondas sísmicas com propriedades diversas. “As diferenças estão nas frequências das ondas e em sua amplitude (tamanho). Se uma explosão ocorre na água, mais ondas sísmicas são geradas. Estamos em posse de dados sobre explosões feitas pela Marinha sueca, ao norte de onde ocorreram os eventos. Após compará-los, concluímos que se trataram de explosões”, assinalou.
Lund rejeita uma explicação natural para os incidentes. “Como foram explosões subaquáticas, e bastante grandes, não vejo outra fonte que não seja artificial, produto do homem. Não foram terremotos, nem deslizamentos subaquáticos, mas explosões.”
Colega de Lund em Uppsala, Peter Schmidt concordou que “é altamente provável que o vazamento seja relacionado à atividade humana”. “O movimento do solo indica, com grande confiança, que houve explosões na coluna de água, o que causa a reverberação. É uma onda de pressão que vai e volta do fundo do mar à superfície, dando origem a movimentos repetidos do solo”, disse, por e-mail.
Por Correio Braziliense