De um lado, a francesa Lagardère em parceria com o Consórcio Arena das Dunas e a OAS. De outro, a holandesa Amsterdam Arena e a RNGD Consultoria de negócios. Os interessados em assumir a ArenaPlex — pacote de instalações esportivas que engloba o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, o Ginásio Nilson Nelson e o Complexo Aquático Cláudio Coutinho. Representantes da Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap) e do GDF apresentaram a executivos das duas empresas o projeto de concessão por 35 anos, renováveis por outros 35. O rombo nos cofres da Terracap com a construção do estádio mais caro da Copa de 2014 é de R$ 1,3 bilhão. A obra custou, no total, R$ 1,5 bilhão.
A publicação do edital de licitação da parceria público-privada (PPP) está prevista para o fim de julho. O investimento inicial será de R$ 80 milhões na revitalização dos espaços. Além da aplicação inicial na ArenaPlex, o concessionário deverá arcar com os gastos do governo, de cerca de R$ 8,5 milhões por ano, com a manutenção do complexo, e pagar outorga anual de R$ 5 milhões para a Terracap, proprietária do terreno. Em contrapartida, o vencedor poderá explorar comercialmente os equipamentos esportivos e cerca de 7 mil vagas de estacionamento.
Francesa, a Lagardère tem faturamento de US$ 10 bilhões por ano. Administra 58 arenas ao redor do mundo, sendo 45 delas estádios de futebol. No Brasil há três anos, tem as concessões da Arena Independência, em Belo Horizonte, e da Arena Castelão, em Fortaleza. É representada por duas parceiras: BWA e LuArenas. Nesse período, investiu R$ 30 mihões no país, incluindo direitos de transmissão de tevê. A firma cuida do marketing esportivo de 70 clubes pelo mundo, como o alemão Borussia Dortmund e o inglês Liverpool — sem contar as consultorias. A multinacional é a segunda editora de livros do mundo e líder de mídia da Europa.
Na conversa com a Terracap, o grupo francês se interessou em disputar a concessão da ArenaPlex, mas questiona pontos do modelo da concessão. O novo investimento também depende do desfecho da compra da gestão do Maracanã. Em 5 de abril, a Lagardère assinou um pré-contrato para administrar o ex-maior do mundo, com previsão de investimento de R$ 500 milhões até 2048. Em 11 de maio, desistiu depois de desentendimentos com o Estado do Rio de Janeiro e da forte pressão do Flamengo.
Maracanã
Adversário da BWA, um dos braços da Lagardère no Brasil, o Flamengo contestou a venda feita pela Odebrecht, atual responsável pelo complexo do Maracanã. O presidente Eduardo Bandeira de Mello marcou posição. Disse que o time rubro-negro não jogará no estádio sob administração da empresa francesa. O clube carioca teve problemas com a BWA na gestão de Patrícia Amorim. Curiosamente, se a Legardère consolidar o interesse pelo Mané Garrincha, também terá problemas para trazer a Brasília partidas do Flamengo — o rubro-negro é o maior cliente da arena candanga. Desde 2013, jogou 21 vezes lá.
“A BWA trabalha para vários clubes. Inclusive, trabalhou para o Flamengo. Por tudo que ouvimos e informações que recolhemos, preferimos não trabalhar com eles. A BWA se juntou à Lagardère. O Flamengo vem passando por um processo de reconstrução da imagem e da credibilidade. Não podemos sacrificar isso nos associando a empresas que não têm os mesmos princípios e valores que temos”, disse o mandatário , em abril.
Amsterdam Arena
Possível adversária da Lagardère, a Amsterdam Arena, que administra estádio homônimo do Ajax, da Holanda, é outra especializada na administração de arenas. Em 2013, Lagardère e Amsterdam Arena tabelaram na licitação do Maracanã e perderam para o pool formado por Odebrecht, AEG e IMX, de Eike Batista. A empresa tem como clientes, entre outros, o Estádio da Cidade do Cabo, da Copa de 2010; a arena do Zenit São Petersburgo, da Rússia; o Ninho dos Pássaros, em Pequim; e o Olímpico de Kiev, na Ucrânia — palco da final da Champions League em 2018.
No Brasil, a empresa deu consultoria durante a construção da Arena do Grêmio. Com a Amsterdam Arena, a RNGD entraria com a consultoria. Uma empresa associada, a Dubois&Co., foi responsável por um estudo de viabilidade da parceria público-privada do Mané Garrincha no ano passado.
O diretor de novos empreendimentos da Terracap, André Gomyde, não quis confirmar os nomes das empresas candidatas a assumir a concessão da ArenaPlex. Alegou sigilo do processo de licitação. “Eu só posso afirmar que estamos fazendo tudo com a máxima transparência. Haverá, inclusive, uma audiência pública”, disse. Segundo ele, a intenção é que a nova empresa assuma em 2018. Fontes da Lagardère, da Amsterdam Arena e do Consórcio Arena das Dunas confirmaram conversas com a Terracap, mas pediram anonimato.
Prejuízos em PPP realizada em Natal
Uma das integrantes do grupo interessado em assumir a ArenaPlex — Mané Garrincha, Ginásio Nilson Nelson e Complexo Aquático Cláudio Coutinho — é a Arena das Dunas Concessão e Eventos, ao lado da empreiteira OAS e da Lagardère. Ambas são responsáveis pela administração da Arena das Dunas, em Natal, utilizada na Copa de 2014. A construção do estádio custou R$ 400 milhões, financiados pelo BNDES. O consórcio e o governo do Rio Grande do Norte celebraram uma parceria público-privada (PPP), nos moldes em que a Terracap pretende em Brasília com a ArenaPlex. O contrato tem duração de 20 anos. Um executivo do consórcio confirmou ao Correio que analisa o modelo apresentado pela empresa candanga.
Segundo dados do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte, a Operação da Arena das Dunas é deficitária. Em 2015, por exemplo, o saldo entre receitas e despesas ficou negativo em R$ 16 milhões. No ano da Copa, prejuízo de R$ 16 milhões. Entretanto, a contrapartida financeira do governo estadual equilibra as contas.
O contrato de concessão determina que 50% de receitas líquidas da arena têm de ser compartilhados com o governo do Rio Grande do Norte. Porém, não sobra dinheiro na operação. Consequentemente, o estado não recebe um tostão. Alvo da Operação Lava-Jato, a OAS manifestou recentemente o interesse de se desfazer da Arena das Dunas, como a Odebrecht no caso Maracanã.
Primeira Liga e rúgbi na agenda
À espera de uma nova gestão, o Mané Garrincha está com a agenda vazia neste segundo semestre. Reaberto depois do plantio de sementes de inverno, que custou R$ 28.076,10, o gramado está pronto para receber eventos. O veto dos clubes da Série A a partidas fora do estado dos clubes, porém, impede jogos no DF. O Regulamento Geral das Competições da CBF também veta a chamada venda de mando de campo a partir das oitavas da Copa do Brasil.
Assim, a arena aguarda as quartas de final da Primeira Liga. O Flamengo confirmou ao Correio o interesse de mandar a partida contra o Paraná, em 29 ou 30 de agosto, no Mané Garrincha, onde o clube recebeu o Grêmio neste ano. Atual campeão do torneio, o Fluminense também estuda jogar em Brasília contra o Londrina pelas quartas de final. Enquanto isso, o gramado receberá, no próximo dia 17, uma partida local de rúgbi, provavelmente seguida de um duelo de futebol americano. Os organizadores, inclusive, assumiram a responsabilidade de fazer a marcação do campo para o evento.