Responsável por colocar o Brasil no mapa da Fórmula 1, Interlagos correu o sério risco de ficar fora da categoria mais importante do automobilismo mundial. No ano passado, o chefão Bernie Ecclestone e a Prefeitura de São Paulo deram fim ao impasse com um acordo de reforma estrutural avaliada em R$ 160 milhões, garantindo a presença do circuito até 2020. A primeira etapa das obras já tem data para começar. O autódromo será fechado em junho, para passar por um recapeamento total da pista.
A Prefeitura da cidade ainda não divulgou os detalhes da reforma, mas a organização do GP do Brasil já adianta que Interlagos não passará por mudanças radicais. O antigo projeto de reformulação, que previa a construção de um novo prédio na reta oposta, para abrigar os boxes e receber o novo ponto de largada, foi descartado. Após o recapeamento do traçado, as obras só terão continuidade em 2015, com a ampliação da área de garagens e a modernização do paddock.
Segundo a diretora-executiva do GP do Brasil, Cláudia Ito, a reforma de Interlagos vai priorizar a funcionalidade do autódromo, atendendo as principais reivindicações da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Formula One Management (FOM) e das escuderias que compõem o grid. As obras serão focadas na solução de problemas recorrentes, como o espaço reduzido nos boxes e a ausência de áreas exclusivas das equipes, sem alterar as características originais do circuito, inaugurado em 1940.
– Conversamos com todos os envolvidos, e chegamos à conclusão de que alterar as características de Interlagos seria uma perda muito grande. Todos ficaram mais do que satisfeitos com a proposta de aumentar o conforto e o espaço de operação das equipes. Tudo será readequado conforme o padrão da FIA, que é tão exigente quanto a Fifa ou o COI (Comitê Olímpico Internacional). Na segunda etapa, teremos a inclusão de dois ou três boxes, a ampliação da sala de imprensa, entre outras mudanças pontuais – explica Cláudia.
O recapeamento dos 4.309 metros do traçado paulista deverá estar concluído alguns meses antes do GP do Brasil deste ano, marcado para o dia 9 de novembro (clique aqui e veja o calendário). O asfalto da pista foi totalmente trocado pela última vez em 2007, e a organização do GP do Brasil acredita que esta primeira etapa da reforma já contribuirá para melhorar a experiência dos pilotos e do público. Para Cláudia, manter as características originais de Interlagos também é fundamental para preservar a identificação dos espectadores com o autódromo.
– Eu realmente acho que não é necessário reconstruir Interlagos. O que qualquer promotor de corridas precisa, acima de tudo, é de um circuito funcional. É lógico que adoraríamos ter um autódromo grandioso e impecável como o de Abu Dhabi, mas isso não é garantia de um bom evento. A equipe não está preocupada se o acabamento é de mármore. Ela quer saber se as instalações elétricas funcionam, se há espaço suficiente para seus funcionários trabalharem. Essas coisas são muito mais importantes do que uma bela fachada – afirma.
Apesar dos problemas que quase deixaram o autódromo fora da Fórmula 1, o GP do Brasil foi eleito a corrida mais bem organizada da temporada 2013 pela FIA. O prêmio, concedido pelas 11 equipes que disputam o Mundial, aponta a melhor corrida levando em consideração as dificuldades que os promotores enfrentam para sua realização. Cláudia Ito afirma que o reconhecimento internacional mostra que o Brasil tem capacidade para realizar grandes eventos.
– O mérito de ganhar o prêmio foi de todos os envolvidos, não apenas da organização do GP, mas também da Prefeitura, da polícia, etc. O prêmio considera a capacidade de superar condições adversas. O GP do Brasil é fantástico, principalmente pelo traçado tão interessante, mas tem algumas falhas estruturais. Conhecemos Interlagos como a palma da mão, e isso acaba fazendo a diferença, porque conseguimos solucionar os problemas rapidamente, mas agora não podemos mais adiar as reformas mais amplas – opina Cláudia.
Nos três dias de atividades em 2013, Interlagos recebeu 130 mil visitantes – 66 mil apenas no domingo. Para a corrida, o autódromo consome energia elétrica correspondente a uma cidade de 50 mil habitantes. Além disso, cerca de 10 mil empregos diretos e indiretos são gerados durante o evento. Este ano, o circuito receberá uma etapa da F-1 pela 33ª vez – a primeira foi em 1972, sem contar pontos para o campeonato. No ano seguinte, o traçado foi incluído oficialmente no calendário. O circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, recebeu dez GPs, de 1978 a 1989.