Cinco instituições do DF para tratar dependentes químicos sobrevivem de doações sem o dinheiro do GDF
Com o que recebem do governo, as comunidades terapêuticas do DF mal conseguem fazer seus trabalhos de acolhimento, tratamento e recuperação de dependentes químicos. O maior problema é ver a cor do dinheiro que, mesmo pouco, é necessário para manter as instituições. Até agora, a fatura do mês passado está em aberto, à espera de assinatura. Enquanto isso, quem tenta mudar a vida e quem trabalha para isso é afetado diretamente.
A sobrevivência das cinco instituições mantidas com recursos do Fundo Antidrogas do DF tem se dado por meio de doações e artifícios dos diretores para manter o tratamento de 152 dependentes. A diária repassada pelo governo é de R$ 33 por dependente. Em Vicente Pires, o Instituto Crescer pede empréstimos e doações para comprar gás de cozinha. Em Ceilândia, o Renovando a Vida (RAV) respira com o dinheiro da poupança do dono.
O governo havia destinado para este ano R$ 1,8 milhão à ressocialização de homens e mulheres dependentes de crack, cocaína, maconha, álcool e outros entorpecentes, mas, após contingenciamento feito em janeiro de 2016, ficaram disponíveis R$ 800,9 mil do valor original. No mês passado, foram descontingenciados R$ 360,2 mil. Mas os institutos não receberam nada ainda.
“Dinheiro na conta não tem, é só promessa”, revela a presidente da Associação das Comunidades Terapêuticas do DF e Entorno, Areolenes Curcino Nogueira. Ela e os demais mantenedores das instituições dizem que, desde que a subsecretária de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Justiça, Joana Mello, deixou o cargo no mês passado, os repasses não são realizados.
“Os contratos foram feitos, as prestações de contas também. Está tudo certo. Só falta a fatura ser assinada, e isso tem sido uma dificuldade. Dizem que a Joana teria que assinar, mas ela não é mais a secretária. Quem assume a pasta deveria fazer. Pessoas podem morrer por falta de agilidade do governo”, reclama Areolenes.
Memória
Em fevereiro, o Jornal de Brasília havia denunciado problemas nos repasses. Como consequência, a redução de vagas custeadas pelo Governo do Distrito Federal se tornou realidade. Em 2014, havia 252 leitos, mas caíram para 250 no ano passado e, atualmente, são 152.
Com as dificuldades, instituições fecharam as portas e, mesmo com vagas, as que se mantêm recusam novos acolhidos por falta de recursos.
Saiba mais
A Associação das Comunidades Terapêuticas do DF e Entorno conta que o custo médio mensal de um dependente químico é de, pelo menos, R$ 2 mil. No entanto, recebem R$ 1 mil. O valor, diz a entidade, é insuficiente para bancar cinco refeições diárias e acompanhamentos psicológico e psiquiátrico.
O Governo de Brasília prevê implementar mais 500 leitos nas instituições até 2019. Essa ampliação, explicou o subsecretário Hugo Sousa Lima, depende da criação de novas comunidades terapêuticas e de trâmite legal para isso.
Não se sabe como os funcionários das comunidades terapêuticas vão trabalhar nesta semana. Não há dinheiro para as passagens. Eles se mantêm nos postos, mas o atraso dos repasses impede que sejam pagos em dia.