Entrada de Marcelo Castro, candidato do PMDB à revelia do Planalto, na sucessão de Eduardo Cunha deixa ainda mais indefinida a eleição para presidente da Câmara
A Câmara dos Deputados chega hoje loteada à eleição para escolher quem sucederá Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no mandato tampão de presidente da Casa, que vai até fevereiro do ano que vem. A entrada do ex-ministro da Saúde Marcelo Castro (PMDB-PI) na disputa, após ser escolhido por 28 votos de seus correligionários, embolou de vez o jogo, roubou votos prometidos a outros candidatos e animou o PT, que escolheu um nome para apoiar e tentar se manter vivo no parlamento após o afastamento de Dilma Rousseff.
“Consegui os votos do meu partido e, agora, estou procurando conversas com as legendas que não têm candidato próprio, como o PT, o PCdoB, o PDT. Acho deselegante procurar quem anunciou algum nome. Estou confiante para chegar ao segundo turno e, de lá, para a vitória”, afirmou Castro. O ex-ministro da Saúde é um azarão que ganhou peso inesperadamente e deve, de cara, arrebanhar boa parte da esquerda, em uma articulação antecipada pelo Correio no último sábado.
Castro disputou internamente com Carlos Marun (PMDB-MS) e Osmar Serraglio (PMDB-PR). Dos 66 deputados da bancada, apenas 46 estavam presentes. Na primeira rodada de votações, o ex-ministro da Saúde de Dilma teve 17 votos, Marun; 11; e Serraglio, 11, e outros sete deputados se abstiveram. Por ser mais antigo, Serraglio foi para o segundo turno e o resultado cristalizou-se: Castro com 28 votos, contra 18 do adversário.
A decisão mexeu com as estruturas da Câmara e do Planalto. Na hora em que o resultado foi confirmado, o presidente em exercício, Michel Temer, almoçava com a Frente em Defesa da Agropecuária. Acabou questionado pelo deputado Nilson Leitão (PSDB-MS). “Como o PMDB deixa vencer um candidato que foi contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff?”, quis saber. Temer, com jeito enigmático, devolveu. “Essa é a maior prova de que eu não estou me envolvendo nessa disputa”, completou o presidente em exercício.
Mais cedo, no entanto, o chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha, confirmou o empenho do governo — até o momento, completamente em vão — de encontrar um nome de consenso na base. Questionado se o governo trabalha para que Marcelo Castro desista da candidatura à Presidência da Câmara, Padilha afirmou que “não só o Marcelo Castro, mas queremos que fique um só”, afirmou. “Nós não interferimos na definição de quem seja, mas queremos sim que tenha um candidato da base. Nós queremos a unidade da base, e unidade se constrói sem disputa.”
Padilha defende que sejam costurados acordos para os próximos mandatos da Presidência da Câmara. “Pode haver esse conserto. Nós podemos chegar à conclusão de que pode haver um conserto e nós estamos pensando que de repente possa fazer esse conserto para 2016, 2017, 2018. Não precisa ser só 2016”, afirmou.