Muitos nem registram mais boletins de ocorrência e afirmam que não há policiamento na região
Não é preciso procurar durante nem cinco minutos para encontrar uma pessoa que já foi assaltada no Setor de Oficinas Sul (SOF), no Guará. O local é alvo recorrente de roubos e furtos. Segundo os comerciantes da região, o último crime foi na semana passada, quando o funcionário de um quiosque levou um tiro na ida para a casa. A situação chegou a tal ponto que a maioria dos empresários do local desistiu de registrar boletim de ocorrência. Segundo eles, a atitude não muda a realidade.
“Polícia aqui? Não tem. Não passa nada. Nem viatura. Eventualmente, eles vêm quando tem ocorrência. Mas é depois que já aconteceu”, reclama Marcelo Henrique de Paiva, de 40 anos. Proprietário, há 12 anos, de uma mecânica de lanternagem e pintura, ele conta que a insegurança é constante na região. “A gente trabalha desconfiado. Se passa alguém a pé, diferente, já ficamos atentos, porque, aqui, basicamente, as pessoas vêm de carro para consertá-lo”, diz.
Marcelo conta que, há poucos meses, foi assaltado em sua loja. Os bandidos estavam armados e amarraram os funcionários para roubar o cofre. “A ação toda durou uns 15 minutos. Tinha cliente aqui dentro. Então, foi bem assustador”, diz o empresário. Para ele, existe a possibilidade de ter sido um ex-funcionário que encomendou o roubo. “Já sabiam de tudo, de como funcionava. Mas, até hoje, não descobriram quem foi”, completa.
Arrombada várias vezes
Em outra rua do Setor do Oficinas Sul, perto da loja de Marcelo, outro proprietário de uma mecânica revela que sua loja foi arrombada mais de quatro vezes. “A cada roubo, pago mais ou menos R$ 5 mil em ferramentas novas, porque elas são caras. O último foi no fim do ano passado”, lembra Carlos Gilberto Soares, de 47 anos. Questionado se registrou a ocorrência, o empresário diz que não. Ele perdeu as esperanças de que os crimes no local sejam solucionados. “Só perco meu tempo. Não resolve nada”, salienta.
O mecânico destaca que falta policiamento no local. O que torna a ação dos bandidos mais recorrente. “Eles se sentem à vontade. Aqui, tem de tudo. É roubo, assalto, furto. Já roubaram até guincho. Arrombam carros sem cerimônia”, diz Carlos.
Restaurantes não escapam dos bandidos
Do outro lado da rua da mecânica de Carlos, em uma gráfica, os funcionários tiveram seus carros arrombados há poucos dias. E detalhe: os veículos ficavam estacionados a poucos metros da loja.
“Foi aqui na frente. Os bandidos se aproveitam quando para um carro grande, se escondem e arrombam. É tudo rápido”, afirma o serralheiro José Divino, de 37 anos. “A segurança é zero. Levaram meu som de R$ 2,5 mil. Só prejuízo”, reclama também Wesley Farias, de 31 anos.
Nem os restaurantes do Setor de Oficinas escapam da ação dos bandidos. Segundo Nildete Cavalcante, proprietária de uma lanchonete, recentemente, o funcionário de um quiosque levou um tiro na ida para a casa. “Ainda não sabemos os motivos. Mas foi bem aqui perto”, destaca.
Em nota, a Polícia Militar se defendeu das acusações de que não faz ronda no local. A corporação disse que, desde o ano passado, os índices criminais no SOF Sul estão em queda por meio da Operação Redução dos Índices Criminais (RIC).
“Fatos pontuais podem ocorrer porque o problema na área é bem mais amplo e multifacetado”, disse a corporação, acrescentando que falta iluminação no local. “Uma favela que cresce nas redondezas. É um problema que não cabe somente à PMDF a resolução”, destacou.
Versão oficial
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o Guará, região onde está localizado o SOF Sul, teve queda de 28,4% nos roubos a pedestres em 2015. As ocorrências passaram de 1.227 em 2014 para 879 em 2015. O único crime que apresentou aumento foi de roubos a coletivos, que passou de 14 ocorrências em 2014 para 20 em 2015.
Além disso, destacou, as ocorrências de roubos a veículos também registraram queda de 49,5%, de 293 em 2014 para 148 em 2015. As de furto no interior de carros caíram 20,5%, de 902 em 2014 para 717 em 2015. Já as ocorrências de roubos em comércio caíram 11,2%, de 89 em 2014 para 79 em 2015.
Segundo o órgão, o 4º BPM — responsável pelo Guará e pela Estrutural — faz as rondas na região do SOF Sul diariamente, 24 horas, por meio de viaturas.