Depois das reuniões com políticos e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o cantor e compositor Caetano Veloso comandou um show na Esplanada dos Ministérios, que reuniu 17 mil pessoas, de acordo com estimativa da Polícia Militar. O evento, como parte do “Ato pela Terra contra o pacote da destruição”, teve a participação, também, de indígenas de diferentes povos.
Caetano Veloso cantou Terra e pediu a rejeição dos cinco projetos de lei que atentam contra o meio ambiente e os povos originários. No palco, artistas e ativistas se revezavam com palavras de ordem, como “temos de acabar com o pacote de destruição” e “eles querem passar a boiada”. “Ainda é possível que a gente consiga barrar esse pacote tenebroso. Nossa consciência precisa ser de maior cooperação, por uma nova realidade, mais justa e mais humana”, discursou a atriz Leona Cavalli. “As pessoas precisam entender que a comida que chega à mesa é da agricultura familiar”, ressaltou a chef e ativista Bela Gil.
A atriz Elisa Lucinda sustentou que “vamos precisar de todo mundo”. “O Brasil não se reconhece no que ele é, na mata, no povo preto. Hoje, fomos ali (ao Congresso) pedir para não morrer”, disparou. A também atriz Maria Paula agradeceu ao público pela presença. “Esse evento é algo que nos alegra neste momento tão duro, num momento de guerra. Temos, no nosso país, uma guerra contra nossos direitos”, disse.
Indígenas
Um dos manifestantes presentes era Weibe Tapeba do povo Tapeba, 38 anos, do Ceará. “Estamos aqui em defesa da Terra. Para nós, é sagrada. Estamos perplexos com o pacote da maldade que tramita no Congresso Nacional”, criticou. Ele enfatizou que mais de 50% das terras indígenas não estão regularizadas. “São 495 reivindicadas e 119 ainda na primeira fase de demarcação. São terras sem segurança jurídica e, agora, falam em mineração em terras”, reprovou. No ato, ele e seu grupo dançaram e cantaram, num pedido de “proteção da Terra”.
Já o líder Suruí Pataxó, do povo Pataxó, na Bahia, contou que nas terras deles, em Porto Seguro, “há uma parte demarcada e outra, não”. Ele destacou a importância da mobilização de artistas e pessoas da sociedade civil pela causa dos indígenas.
A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva disse que o ato teve o objetivo de conter uma agenda classificada por ela como “desmonte da legislação ambiental”. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que espera uma atitude do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já que não houve entendimento com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Não conseguimos diálogo. O Senado é a última esperança para conter esse pacote devastador. Do lado da Câmara, a agenda avança”, ressaltou.
Kelly Mafort, 46 anos, coordenadora nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), frisou que a pauta sobre reforma agrária “foi completamente paralisada durante o governo Bolsonaro”.
Nos bastidores do show, Paola Carosella, chef e militante pela alimentação saudável, relatou a emoção de ter subido ao palco num evento tão importante. “Quase desmaiei. Eu me sinto muito honrada, privilegiada por fazer alguma coisa em que acredito, que é o acesso de comida limpa e justa para todos”, afirmou. “Eu entendo que o agronegócio é importante para a economia do Brasil, mas torço para que se entenda que uma transição agroecológica é a ideia e o modelo mais inteligente, não somente para ter comida limpa, mas para termos entrada em outros lugares.”
A atriz Alessandra Negrini destacou o dia histórico para a representação da sociedade civil. “Estamos com uma turma barra pesada de artistas, mas estamos como cidadãos, convocando vocês para estarem conosco lutando pelo país, pelo meio ambiente, pelo nosso futuro. Daqui para frente, a gente vai para as ruas, vai falar mais”, ressaltou.
Fonte: Correio Braziliense