Cavalos, cachorros, bois e lobos-guará são a maioria das vítimas. Geralmente, eles morrem atropelados em estradas perto de parques ecológicos e áreas com matas e rios
O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) recolheu 3.011 animais mortos nas vias públicas do Distrito Federal, no ano passado. Em 2017, os servidores do órgão recolheram 2,9 mil bichos. Cavalos, cachorros, bois e lobos-guará são a maioria das vítimas. Geralmente, eles morrem atropelados em estradas perto de parques ecológicos e áreas com matas e rios.
Quando o animal morre, ele é retirado da pista por servidores do SLU. Já em casos em que o bicho resiste ao acidente, é encaminhado pela Polícia Militar Ambiental ao Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB). Porém, antes de chegar à unidade, os animais passam pelo Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas), na Floresta Nacional de Brasília.
“Ano passado, atendemos uma fêmea de sagui que tinha acabado de ser atropelada. Ela estava grávida e muito ferida. Apesar de tudo que fizemos, ela não resistiu e, como os filhotinhos ainda estavam em fase de formação, todos morreram”, lembra Líria Queiroz Luz Hirano, médica do Hospital Veterinário da UnB e professora da universidade. De acordo com a especialista, a maioria dos bichos que chegam à unidade é vítima de atropelamento, choque elétrico ou agressões dos donos.
Negligência
Moradora do Vale do Amanhecer, em Planaltina, Iara Francisca Rodrigues da Silva, 42, diz ser comum ver cavalos andando soltos à beira das vias. “Vira e mexe, aparece um animal morto na pista. Por isso, a gente tem que redobrar a atenção, principalmente em estradas mais escuras, sem iluminação”, conta a professora. “Há animais soltos e mortos em todas partes, como no Jardim Roriz, no Setor da Estância, em Arapoanga. É cachorro, vaca, galo”, completa.
A diretora da Associação Protetora dos Animais do DF (ProAnima), Mara Moscoso, diz que a maioria dos animais pertence a chacareiros e tutores que não se preocupam em manter os bichos adequadamente. “No geral, esses atropelamentos são devidos à irresponsabilidade dos donos, que não entendem que os bichos não têm consciência dos perigos de uma pista”, observa Moscoso. Ela alerta que animais soltos representam perigo também para os motoristas. “Muitos condutores ignoram as placas de aviso de bicho na área e não diminuem a velocidade, negligenciando os relatos de acidentes graves envolvendo atropelamentos de animais. Atenção ajuda os dois lados”, ressalta a ativista.
O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) faz ações de monitoramento de fauna na área da obra de implantação do Trevo de Triagem Norte. Recentemente o órgão instalou controladores de velocidade (pardais), na BR-020, diminuindo o limite para 60 km/h em pontos com maior probabilidade de atropelamento de animais.
Maus-tratos
As delegacias do Distrito Federal registraram, só em janeiro último, 10 ocorrências de maus-tratos a animais. A maioria das denúncias chega à Polícia Civil de forma anônima. “É importante que a denúncia seja realizada, tanto pelos canais de denúncia ou, formalmente, nas delegacias de área, para atuação efetiva da polícia”, explica o delegado Marinho Neto, chefe da Delegacia Especial de Proteção ao Meio Ambiente e à ordem Urbanística.
No primeiro mês deste ano, o Batalhão da Polícia Militar Ambiental resgatou 374 animais e apreendeu 811. “Casos de resgate é quando espécies do cerrado se perderam por causa da invasão de áreas urbanas em seu habitat. Já os números de apreensões se referem a delitos, como tráfico e criação irregular”, explica o comandante do batalhão, Major Souza Júnior. No ano passado, foram mais de 8 mil bichos apreendidos e resgatados.
Há duas semanas, a Polícia Federal apreendeu 160 pássaros silvestres com um passageiro que tentava embarcar no Aeroporto Internacional de Brasília. As aves foram trazidas de Boa Vista, em Roraima, e, segundo o suspeito, seriam levadas para São Paulo. Os pássaros são da espécie canário-da-terra — conhecida pelo canto forte — e esteve na lista de animais ameaçados de extinção.
O homem de 55 anos foi detido ainda no saguão do terminal, depois que outros passageiros acionaram a Polícia Militar. A PF não informou se havia algum ferido ou morto. Policiais levaram o homem para a Superintendência da Polícia Federal no DF, onde foi autuado por crime ambiental. Ele assinou um termo se comprometendo a comparecer à Justiça e foi liberado em seguida. Os animais foram levados para a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
Como adotar
O Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) lançou, em junho do ano passado, o WhatsApp Adoção, serviço que pode ser acessado pelo mesmo telefone usado para fazer denúncias (99351-5736). Interessados em adotar animais resgatados pela unidade policial podem preencher uma ficha cadastral e participar da lista de espera para adoção. “A partir do momento em que a pessoa encaminha o pedido, nós avaliamos se ela tem capacidade de manter o animal, oferecer comida, espaço e carinho”, orienta o major Souza Júnior. Em seis meses de funcionamento, o serviço possibilitou a adoção de 272 animais, sendo 20 gatos e os demais cachorros.