A Turquia descartou nesta quarta-feira (16) uma negociação com os combatentes curdos na Síria, exigiu que eles entreguem as armas e abandonem a “zona de segurança” designada por Ancara, ignorando o pedido de cessar-fogo apresentado pelos Estados Unidos, que enviou à Turquia seu vice-presidente.
Com o início, na semana passada, da operação militar contra a milícia das Unidades de Proteção Popular (YPG), Ancara modificou as alianças e transformou o norte da Síria no novo epicentro de uma guerra que devasta o país desde 2011.
Neste contexto, Trump decidiu enviar ao país o vice-presidente Mike Pence e seu secretário de Estado, Mike Pompeo.
Após negar num primeiro momento que se encontraria com as autoridades americanas, Erdogan finalmente se reunirá com Pence, segundo informou a presidência turca.
Erdogan, que disse pouco antes à rede de televisão Sky News que Pence e o secretário de Estado americano Mike Pompeo seriam recebidos apenas por seus colegas, “prevê, é claro, se reunir com a delegação dos Estados Unidos”, disse o diretor de comunicação da presidência turca no Twitter.
Erdogan não parece nem um pouco interessado em uma trégua.
“Nos dizem que devemos declarar um cessar-fogo. Nunca poderemos declarar uma trégua enquanto a Turquia não expulsar a organização terrorista da fronteira”, declarou, em referência às milícias curdas.
“Nossa proposta é que agora, esta noite, todos os terroristas entreguem as armas, equipamentos, tudo, que destruam todas as fortificações e abandonem a zona de segurança que estabelecemos”, afirmou em um discurso no Parlamento.
Ao mesmo tempo, os combates prosseguem na Síria. Na cidade fronteiriça turca de Ceylanpinar, era possível ouvir explosões na localidade de Ras al-Ain, onde os combatentes curdos tentam evitar o avanço das forças de Ancara.
Putin convida Erdogan
Em 9 de outubro, a Turquia iniciou a operação contra as YPG, um grupo apoiado pelos países ocidentais pelo papel desempenhado na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Ancara considera que esta milícia, principal integrante das Forças Democráticas Sírias (FDS), uma coalizão árabe-curda, é uma “organização terrorista” por seus vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que opera uma guerrilha na Turquia.
Para contra-atacar a ofensiva, as forças curdas pediram ajuda a Damasco, que enviou tropas ao norte do país, sobretudo em Manbij e Ras al-Ain. Nesta localidade, na terça-feira, morreram dois soldados do governo Assad por disparos de artilharia dos rebeldes pró-Turquia, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
De acordo com a ONG, nesta quarta-feira (16), o Exército sírio e os combatentes curdos protagonizavam uma batalha violenta contra os rebeldes apoiados por Ancara em Ain Isa.
A mobilização das forças do regime sírio, aliado de Moscou, provoca o temor de um confronto com os militares turcos e os rebeldes apoiados por Ancara.
Para tentar evitar este cenário, o presidente russo, Vladimir Putin, convidou Erdogan a visitar Moscou.
O Kremlin informou que a polícia militar russa faz “patrulhas ao longo da linha de contato” entre as forças sírias e turcas na região de Manbij.
Um canal de TV russo exibiu as primeiras imagens de tropas russas e sírias em Manbij, onde antes estavam mobilizados soldados americanos.
Erdogan chamou de “acordo sujo” o pacto entre os curdos e o regime de Assad.
O objetivo da operação turca é a criação de “uma zona de segurança” de 32 km de largura ao longo da fronteira para separá-la das áreas sob controle das YPG e repatriar parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios instalados na Turquia.
Em sete dias, morreram 71 civis, 158 combatentes das FDS e 128 militantes pró-Turquia, segundo o OSDH. Ancara informou que seis soldados morreram na Síria, assim como 20 civis que foram atingidos por foguetes disparados por combatentes curdos contra cidades turcas.
A ofensiva provocou a fuga de 160.000 pessoas do norte da Síria, anunciou a ONU.
Vários países europeus temem uma fuga em massa de extremistas detidos em centros controlados pelos curdos. Quase 12.000 combatentes do EI, que incluem de 2.500 a 3.000 estrangeiros, estão detidos nestes campos.