Alunos do movimento negro cobram reintegração de terceirizados demitidos e auditoria nas cotas, entre outras pautas; UnB aponta ‘falta de diálogo’. Prédio recebe 7 mil estudantes por dia.
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A Universidade de Brasília (UnB) acionou o Ministério Público Federal (MPF) para mediar a desocupação de um prédio de salas de aula no campus Darcy Ribeiro – o maior da instituição. O espaço foi fechado por um coletivo de estudantes negros na última terça (15) e, até este domingo (20), a reitoria não tinha conseguido acordo com os alunos.
Uma reunião está prevista para a manhã desta segunda (21) entre representantes da reitoria, do Diretório Negro Quilombo UnB e do MPF. Representantes do Quilombo UnB disseram que a reunião está marcada para as 11h.
De acordo com a UnB, o Bloco de Salas de Aula Sul (BSAS) abriga mais de 850 disciplinas de diferentes cursos, e atende a 7 mil estudantes por dia. Nessa semana, alguns professores conseguiram remanejar as aulas para outras dependências, mas a universidade diz que não há espaço no campus para reacomodar todos esses alunos.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2017/L/a/kq20zGTXydm0gbUU0CmA/whatsapp-image-2017-08-15-at-08.08.28.jpeg)
Diálogo difícil
Além de pedir o prédio “de volta”, a UnB afirma que o grupo de estudantes não mostra “reciprocidade na disposição para dialogar”. Em nota, a reitoria diz ter enviado duas notificações ao grupo Quilombo pedindo a desocupação imediata do prédio, e se colocando à disposição para discutir pautas.
Ao tentar entregar o segundo documento, a administração da UnB diz ter ouvido, em resposta, que os alunos só aceitariam se reunir com o coordenador do Núcleo de Consciência Negra, e não com representante da reitoria.
No primeiro dia de ocupação, o chefe de gabinete da reitoria, Paulo César Marques, disse que o movimento daquela terça tinha sido visto com surpresa. “A gente tem conversado muito abertamente com a comunidade sobre todas essas questões”, disse, em referência aos cortes de orçamento e à demissão de terceirizados – uma das reclamações dos membros da ocupação.
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Lista de reivindicações
Em uma nota divulgada em redes sociais, nesta sexta, o Quilombo UnB listou sete demandas que, segundo eles, devem ser atendidas para que a desocupação do Bloco de Salas de Aula Sul aconteça de forma pacífica. Os pedidos são divididos em dois “eixos” – contra o sucateamento da UnB, e contra o que chamam de racismo institucional.
Confira a lista de reivindicações do Quilombo:
- “reintegração dos terceirizados demitidos”;
- “cancelamento dos avisos prévios em voga”;
- “auditoria das contas das empresas de terceirização”, e
- “cobrança mais incisiva da Reitoria ao governo federal pelo aumento da verba da universidade, que, inclusive, seja feita em conjunto com a comunidade, por meio de convocações amplas.”
- “posse do coordenador do Centro de Convivência Negra”
- “investigação de fraudes nas cotas raciais, com justo jubilamento e multa para fraudadores e integração dos prejudicados”, e
- discussão sobre a implementação de cotas raciais em toda a pós-graduação no CONSUNI e no CEPE [conselhos que definem a política educacional da UnB].
Crise e demissões
Com a queda dos repasses federais, a universidade acumula um déficit de R$ 100 milhões e tem feito cortes para conseguir fechar as contas. No último dia 9, a empresa que atua na limpeza da UnB, a RCA Serviços, demitiu 118 funcionários.
Representantes da empresa disseram que o contrato com a universidade foi reduzido em R$ 700 mil e, por isso, fica necessário suprimir o quadro de funcionários em 128 pessoas.
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Com o corte de verbas federais, o Restaurante Universitário reduziu a oferta de alimentos, especialmente no café da manhã. Segundo a UnB, esta foi a alternativa encontrada para não demitir funcionários.
“A mudança foi mais severa no café porque era excessivo. Nos itens que ficaram, mantém-se a variedade. O iogurte mesmo pode voltar no lugar da proteína”, disse a diretora do RU, Cristiane Costa.