O HPV (abreviação de papiloma vírus humano) é um vírus de alta contagiosidade, sendo o contato sexual o principal (mas não o único) meio de transmissão dessa infecção. Para ter ideia, estima-se que cerca de 50 a 70% das pessoas com atividade sexual irão, em algum momento de sua vida, infectar-se pelo HPV. Em uma pequena porcentagem dos que adquirem a infecção, o HPV pode provocar o aparecimento de lesões na pele e nas mucosas, as chamadas verrugas anogenitais (de aspecto parecido ao de uma couve-flor). O HPV é capaz, ainda, de provocar infecção persistente nos casos em que o organismo não consegue eliminá-lo espontaneamente.
Nesses indivíduos com infecção persistente por alguns tipos do vírus, existe o risco de desenvolvimento do câncer, com destaque para o tumor de colo de útero entre as mulheres. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, trata-se do terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina (atrás apenas dos cânceres de mama e colorretal), e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Em 2018, as estimativas foram de 16 370 casos novos, e aproximadamente 5 700 mortes.
Importante salientar que as maiores incidências das doenças relacionadas à infecção pelo HPV ocorrem em adolescentes e mulheres jovens, pela maior suscetibilidade à infecção nessa idade. Isso porque, durante e logo após a puberdade, alterações que ocorrem no útero predispõem as meninas a um maior risco de infecção e de evolução para um tumor. Em estudo realizado no Reino Unido, 46% das adolescentes de 15 a 19 anos (média de 17 anos) com apenas um único parceiro sexual apresentavam evidência de infecção pelo HPV após três anos de seguimento.
Esses dados comprovam o conceito de que a infecção pelo HPV é frequente mesmo em meninas com apenas um parceiro, enfatizando a relevância da vacinação antes mesmo de a menina dar início a sua vida sexual, já que as vacinas de HPV são profiláticas (ou seja, preventivas), e não terapêuticas. Sua eficácia ideal ocorre se administrada, portanto, antes da exposição dos indivíduos ao HPV.
Quais são as reações observadas com a vacina?
A vacina de HPV faz parte dos programas de imunização de mais de 80 países como estratégia de saúde pública, e já foram administrados milhões de doses desde o seu licenciamento, em 2006.
Após esses anos todos de uso, os sistemas de vigilância dos países que a introduziram em seus programas mostram que ela é segura. Mas, como todo e qualquer produto imunobiológico (vacinas, medicamentos etc.), é claro que podemos eventualmente notar efeitos adversos. Nesse caso, observam-se reações consideradas, em sua maioria, leves – como dor no local da aplicação, inchaço e vermelhidão. Em raros casos, pode ocasionar dor de cabeça, febre de 38 ºC ou síncope (desmaios).
Desde 2014, o Ministério da Saúde disponibiliza a vacina contra o HPV no Sistema Único de Saúde (SUS). A vacina está disponível para meninas com idade entre 9 e 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. O esquema é de duas doses, administradas com intervalo de seis meses entre elas.
Vale (muito!) a pena vacinar
As análises de impacto da vacinação contra o HPV nos países pioneiros na sua introdução mostram uma redução significativa da incidência de verrugas e outras lesões anogenitais associadas a esse vírus. Por exemplo: na Austrália, observou-se diminuição de mais de 90% nos casos de verrugas genitais entre as mulheres da faixa etária incluída no programa de vacinação. Após vários anos de experiência em programas de imunização no mundo, a vacina de HPV se mostrou segura, e não associada a eventos adversos graves.
A imunização das meninas e dos meninos no início da puberdade oferece a possibilidade de uma excelente resposta imune, uma característica natural entre indivíduos dessa faixa etária. Além disso, ao administrar a vacina em uma idade que precede àquela de risco de exposição ao HPV, seu efeito protetor é otimizado. O benefício nos parece, portanto, inquestionável, merecendo o total apoio da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
*Dr. Marco Aurélio P. Sáfadi é professor de pediatria da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo.