Relatório de quase 1 mil páginas foi feito a partir de visitas do MP e conselhos regionais entre março e outubro. Secretaria de Saúde diz que analisa pontos levantados.
Um relatório divulgado nesta terça-feira (31) pelo Ministério Público do Distrito Federal aponta improviso, máquinas paradas, falta de gestão e de material em hospitais da rede pública da saúde. Com quase mil páginas, o documento é fruto de uma série de visitas a oito unidades, entre março e outubro de 2016. A intenção é de usar a auditoria para cobrar mais investimentos do governo, que prorrogou pela quarta vez neste mês a situação de emergência na saúde.
A Secretaria de Saúde disse que já está analisando o relatório sobre a fiscalização. “Muitos dos dados já são conhecidos, uma vez que apresentados ao longo do ano passado, tendo sido tomadas providências para resolver os apontamentos, com solução satisfatória de várias das pendências.”
“Provamos se tratar de uma política descabida, pois o relatório demonstrou que as emergências hospitalares estavam completamente desestruturadas. É irracional implantar UPAs [Unidades de Pronto Atendimento] sem antes estruturar as emergências”, afirmou o promotor Jairo Bisol, de Defesa da Saúde.
“O problema do governo atual é a falta de investimentos, de pagamento aos fornecedores de insumos, de medicamentos e de serviços. Por último, a perda do diálogo administrativo com a ponta, o que provoca a desestruturação geral dos serviços hospitalares. O caos do atendimento nos hospitais e o grau sem precedentes de desatenção à saúde da população mostra isso claramente”, continuou o promotor.
O documento deve ser entregue nesta quarta (1º) ao presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT). O deputado disse que a Casa busca soluções para a Saúde. “Estamos buscando um pacto para o setor. O relatório pode ser inclusive usado pela CPI da Saúde”, declarou.
Além do MP, também participaram das vistorias os Conselhos Regionais de Medicina (CRM), Enfermagem (Coren), Farmácia (CRF-DF), Odontologia (CRO) e Engenharia e Agronomia (Crea).
Veja um resumo do documento
- No Hospital Regional de Taguatinga (HRT), foi notado “desabastecimento de medicações, materiais, insumos, falta de contratos de manutenção dos equipamentos, falta de recursos humanos, superlotação e estrutura mínima para o atendimento de complexidades da região”. Por lá, foram encontrados soros armazenados em corredores. Na sala de sutura, “o ambiente estava sujo e com exposição de material biológico.”
- No Hospital Regional do Gama (HRG), o documento mostra principalmente a falta de pessoal. “A escala estava incompleta, com apenas um médico para atender a ‘porta’, ou seja, para atendimento dos pacientes classificados na Emergência do HRG. Para a visita dos 69 pacientes restantes havia apenas 1 médico escalado”, diz o relatório.
- No Hospital Regional de Sobradinho (HRS), o pente-fino apontou falta de recursos humanos, principalmente de técnicos de enfermagem, equipamentos insuficientes e sem contrato de manutenção. Há falta de medicações, materiais e insumos; instalações com rachaduras e infiltrações, atendimento insuficiente e precário.
- No Hospital Regional da Asa Norte (Hran), os problemas se repetem. Falta manutenção na estrutura do prédio, medicamentos e há risco de infeccção. “Banheiros com limpeza precária e mau odor. Equipamentos sem manutenção por falta de contrato de serviço de reparação”, diz o documento.
- No Hospital Regional de Ceilândia (HRC), o relatório mostra situação semelhante. “Estrutura física e de servidores aquém da necessidade de assistência da população. Falta de recursos materiais e insumos básicos”. Médicos e enfermeiros em número mínimo em alguns setores. Não há contrato de manutenção para os equipamentos especializados.”
- No Hospital Regional do Paranoá (HRPa), os fiscais denunciam superlotação do pronto-socorro, sobrecarga de trabalho e insegurança para os profissionais. “Constatou-se falta de insumos, de reposição de material e de medicamentos, além da falta de contrato de manutenção dos equipamentos e déficit de recursos humanos.”
- No Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), há falta de insumos básicos, medicações e reagentes de exames laboratoriais. Segundo os fiscais, isso inviabiliza cirurgias eletivas e eleva o atendimento em urgências. Há falta “generalizada” de recursos humanos, em especial, médicos e enfermeiros. A estrutura física é pequena para a demanda e a complexidade dos atendimentos.
- Na principal unidade do DF, o Hospital de Base, há “significativa queda em procedimentos de alta complexidade no centro cirúrgico”. Também existe falta de pessoal e insumos básicos. Por lá, há também um tomógrafo da emergência quebrado e falta contrato de manutenção preventiva ou corretiva para a maioria dos equipamentos.