Muito se falou sobre o potencial do Messenger para automatizar o atendimento de bancos a seus clientes quando o Facebook anunciou o suporte a bots. As empresas do ramo de fato não demoraram muito para implementar seus sistemas na plataforma — bons exemplos brasileiros são o Banco do Brasil e o Santander. Mas em uma semana em que três manchetes relacionaram bancos, transferência de dinheiro ou ambos os temas ao nome do WhatsApp, fica difícil não colocar os olhos no outro aplicativo de mensagens de Mark Zuckerberg.
Primeiro foi o Banco do Brasil. O banco estatal, que havia anunciado ainda em fevereiro que começaria a atender seus clientes por WhatsApp, passou a oferecer consulta de saldo e extrato bancário na plataforma a funcionários e alguns poucos clientes. É um sistema parecido com o que a instituição já oferece no Messenger, mas ainda está em fase de testes.
Depois, veio a notícia de que o WhatsApp passaria a oferecer suporte a pagamentos e transferência de dinheiro na Índia. A novidade deve chegar ao país na próxima semana depois de meses de testes, de acordo com o TechRadar, e é baseada no sistema de pagamentos Unified Payment Interface (UPI). A solução é desenvolvida pela National Payments Corporation of India, organização local responsável pelos sistemas usados no varejo.
Por fim, chegou o anúncio do Itaú, que lançou um teclado para Android e iOS que permite fazer transferência de dinheiro sem que o usuário precise sair do aplicativo que estiver usando no momento. Não é uma novidade relacionada diretamente ao WhatsApp, porque o sistema funciona integrado ao aplicativo do Itaú e pode ser ativado em qualquer app que use um teclado. Mas sempre vale lembrar que, ainda em setembro do ano passado, o banco começou a testar o uso da plataforma de mensagens para atender alguns clientes de renda mais alta.
Mas por que seria interessante para o WhatsApp seguir por esse caminho?
Fonte de renda
Com 1,5 bilhão de usuários ativos ao redor do mundo, tornar o aplicativo compatível com sistemas de pagamentos é uma das rotas que o WhatsApp pode trilhar rumo à tão falada monetização. É mais ou menos isso que faz o WeChat, um de seus principais rivais na Ásia: o mensageiro conta com um sistema chamado WeChat Pay, que permite às pessoas fazerem transações direto na plataforma e que tem suporte a diversos métodos de pagamento.
Não há dados exatos sobre o retorno que o serviço rende para a Tencent, responsável pelo aplicativo. Mas, combinado ao dinheiro gerado pela plataforma de computação em nuvem Tencent Cloud, a receita do WeChat Pay chegava a quase 1 bilhão de dólares em março do ano passado. E o número não parece ter parado de crescer, pelo que os resultados financeiros do primeiro trimestre de 2018 dão a entender. “O aumento [na receita] é um reflexo das contribuições de nossos serviços relacionados a nuvem e a pagamentos”, diz o texto divulgado no último dia 16. Uma boa fonte de renda, aparentemente.
Outra possibilidade para o WhatsApp é ampliar o trabalho em conjunto com bancos e também com outras empresas. É algo que que deve acontecer futuramente, graças principalmente à expansão planejada do WhatsApp Business. O aplicativo ainda é restrito a pequenas e médias empresas e não tem tantas funcionalidades, mas a ideia é fazê-lo crescer e oferecer mais recursos com a solução chamada WhatsApp Enterprise. O plano, conforme deixou claro Maz Sharafi, diretor de marketing da marca, é começar a cobrar das empresas mais para frente
Em uma mesa-redonda realizada recentemente em São Paulo, o executivo só desconversou sobre a parceria com o Banco do Brasil e não mencionou exatamente quais recursos a versão mais parruda do WhatsApp Business poderia oferecer. No entanto, o MobileTime informou, ainda em janeiro deste ano, que APIs foram disponibilizadas para parceiros estratégicos ao redor do mundo — Itaú incluso, assim como o BB, aparentemente. O próprio WhatsApp confirmou, durante a F8 do Facebook, a existência das APIs, que ajudarão a gerir um alto volume de mensagens e que dão uma ideia do caminho que o WhatsApp Enterprise pode seguir.
Um longo caminho
A integração dos bancos ao WhatsApp ainda está em estágio bem inicial e isso fica visível ao avaliar as experiências proporcionadas. O bot do Banco do Brasil, por exemplo, requer que o usuário acesse o site da instituição antes de liberar a consulta ao saldo e exige que a conexão seja reestabelecida a cada poucos minutos. No caso do Itaú, ainda que o teclado para Android e iOS seja uma boa alternativa, a integração com o aplicativo tem limitações similares às do BB nas funções e acesso muito restrito — o que sugere suporte a um volume não muito grande de solicitações.
Pagamentos e transferências feitos nativamente também não deve ser algo a sair da Índia tão cedo, já que é baseado em um sistema desenvolvido por uma organização local. Mas, ao menos por lá, pelo menos três grandes bancos firmaram parceria com a empresa.
De toda forma, o próprio Sharafi, do WhatsApp, deixou claro, falando da monetização, que a ideia é não apressar as coisas, indicando que o desenvolvimento dessas integrações com bancos ainda vai levar algum tempo mesmo.